FOLCLORE POLÍTICO E SOCIAL


OS POLÍTICOS E SUAS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS

Governador de São Paulo entre 1951 a 1955, o engenheiro Lucas Nogueira Garcez, foi informado da visita ilustre do ex-primeiro-ministro francês, Paul Reynaud, a São Paulo. Corria o ano de 1952. Intelectual e professor renomado, a Universidade de São Paulo preparou uma recepção à altura e mandou avisar ao governador. Disse que não ia. Ninguém entendeu, aí interveio Canuto Mendes de Almeida, grande advogado e professor paulista, amigo do governador e ia tentar dobrar sua resistência.

   - Lucas você precisa ir a esta homenagem é São Paulo recebendo um grande homem, expressão da cultura da França. Por que você não vai?

   - Porque tenho boa memória. Durante a guerra esse cara defendeu na Europa, a  divisão do Brasil, em três pedaços: o norte e o nordeste ficariam para o Japão; o Centro do país para a Itália, a região sul para a Alemanha. Ele que vá para a Baviera.

      E não foi. 

 

ALMOÇO DE TRÊS RAPOSAS:

MONTORO,TANCREDO E BRIZOLA

Franco Montoro, governador recebia a visita de dois amigos: Leonel Brizola e Tancredo Neves. Estavam almoçando no Palácio Bandeirantes, quando uma multidão de desempregados se aproximava do local gritando slogans, derrubando grades e exigindo falar com o governador. Montoro levantou-se tenso, pálido o rosto crispado:

   - Vou lá fora falar com o povo. Vamos os três?

Brizola discretamente discordou:

   - Se formos os três, pode ficar parecendo que você não quis ir só. E São Paulo está querendo é a palavra do seu governador. E não a presença de visitantes.        

Tancredo sorriu:

   - Está bem. Concordo. Mas se o povo estivesse lá fora batendo palmas e dando vivas, iríamos os três, não?

     Montoro foi, conversou com o povo, tudo resolvido. Voltou, continuou o almoço e contou depois.   



TIRO NA BUNDA

Populista como nenhum outro político jamais imaginou ser, o alagoano Silvestre Péricles, governou Alagoas com a força e a garra de um ditador. Tinha o manto protetor do irmão, o  todo poderoso general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, ministro da Guerra de Getúlio Vargas. Embora advogado e engenheiro de formação, (chegou a ser ministro do Tribunal de Contas da União) Silvestre Péricles, não costumava levar desaforos para casa, nem perdoava adversários.  Não se desnudava do seu autoritarismo e do linguajar  rasteiro. O “jeitão” grosseiro agradava o eleitorado mais  simples e menos letrado. A esses, apelidava de “minha poeirinha de ouro”.

Na visão do jornalista Cláudio Humberto Rosa e Silva, Era capaz de gestos mais baixos, que levassem seus admiradores ao delírio  e os adversários à perplexidade”.

“Na campanha presidencial de 1950, a UDN – (União Democrática Nacional)  - adversária de Silvestre – anunciou a chegada do brigadeiro Eduardo Gomes, em campanha. Mas o candidato udenista cancelaria sua visita. Noticiou-se na véspera que o seu avião- de passagem para Recife- faria  um voo baixo sobre Maceió, às 11 horas da manhã. A UDN convidou a população a sair às ruas para acenar para o brigadeiro.

Na hora prevista, Silvestre subiu no telhado do Palácio dos Martírios, onde há um apertado espaço em que hasteiam as bandeiras do Brasil e de Alagoas e iniciou uma longa sessão de “bananas” para o ar, dedicadas à comitiva inimiga. A "poeirinha de ouro”  começou a se concentrar  diante do Palácio, divertindo-se com a cena bizarra. O avião demorou a aparece, mas Silvestre  permanecia agitando os braços, fazendo gesto característico e sendo imitado por dezenas de pessoas”.

Continuando a narrativa de Cláudio Humberto

 – “Sua mãe, a autoritária  d. Constança Cavalcanti  de Góis Monteiro, convocou o filho governador para uma conversa rápida, com o costumava fazer. O ajudante de ordens deu o recado. Como sempre, Silvestre atendeu prontamente o chamado – sua mãe era a única pessoa que ele verdadeiramente respeitava  e temia. Antes de abandonar o posto, ordenou ao auxiliar que o substituis.

- Fique aqui dando banana para esse filho da puta até eu voltar.

Conversou com a mãe e retornou, minutos depois, ainda a tempo de retomar o posto na insólita saudação ao avião que transportava o principal adversário  de seu candidato, Getúlio Vargas”.

Certa ocasião recebe uma comitiva de educadores no Palácio conduzida  por um padre, Teófanes Augusto de Barros, figura venerada e respeitada pelos alagoanos pela vida consagrada à educação e à sacristia. A comitiva pedia apoio para criação da Faculdade de Filosofia, a primeira no gênero, no Estado. Silvestre concordou, fez um breve discurso, louvor a iniciativa e, no final da conversa  dirigindo-se  ao padre lamentou as notícias divulgadas pela imprensa oposicionista que estaria praticando tiro ao alvo com as fotografias dos políticos adversários, no quintal do Palácio. Padre, me diga o senhor acha que eu seria capaz de uma coisa dessa desse?

O padre fez um apressado sinal-da-cruz: - Cruz-credo, governador, claro que não!

Silvestre encerrou a conversa:  - Tem razão, padre. Eu não gastaria minhas balas  atirando em retratos. No dia em que eu resolver mesmo,  saio atirando é nas bundas desses cornos!


Em “Poucas e Boas” o ex-deputado Valéria Mesquita  de Macaíba, conta outros dois episódios: (nº 308)  - “Quem não conheceu o grande Francisco Cabral, ex-prefeito de São Paulo do Potengi, fundador e prefeito de São Pedro? Inteligente,  espirituoso, boêmio, teve a graça divina de atravessar praticamente o século vinte vivendo exatos cem anos. O seu anedotário político e social é imenso. O seu filho Edmundo contou-me de uma festa em São Paulo do Potengi onde o velho Chico “tava espritado” . Não perdia uma dança com as moças da festa -  hábil dançarino que era - Cabral se perdia no meio do amplo salão. No décimo quinta regresso à mesa onde estava sua esposa D. Carminha, já chateada com os seus excessos e, ele, tentando convence-la que  era político e essas coisas são assim mesmo, recebeu dela uma sentença inapelável: “porque você é sem vergonha mesmo!!”

A segunda (nº 318), teria ocorrido em Mossoró  “Pedro , mossoroense de boa cepa, me passou essa do funcionário público e conterrâneo Luiz Duarte, pessoa muito estimada na sociedade local. Já havia um certo tempo que a sua esposa observava uma irregularidade no seu horário de retorno da repartição. Começou a chegar pelas 18,30h depois pelas 20 horas e, mais a frente, Luiz já estava regressando do batente lá pelas 21 ou 22 horas. Certa noite, inconformada e curiosa, resolveu após saber de “umas conversas”, procurar democraticamente o consorte: “ Luiz, esqueça aquela mulher”. Calmo, sem se aborrecer, responde Luiz: “ Você que não a conhece não esquece, avalie eu!”.


Outras do folclórico Antônio Medeiros:

Casamento de Pobre

Antônio Medeiros estava no Maranhão e pretendia viajar no mesmo dia de volta à Paraíba. Necessitava consertar um pneu do caminhão, a única borracharia da cidade estava fechada. Foi até a casa do dono e este alegou que ia se casar e, portanto, não podia atender naquele dia..
- É que eu mexi com a “honra” da menina e aqui no Maranhão ou você casa ou morre! E Antônio rebateu:
- Pois amigo fique sabendo: casamento de pobre é como ladainha. No começo é só vida doçura, esperança nossa. Mas, do meio pro fim, é: gemendo e chorando nesse vale de lágrimas.   

- Você tá doido? Casar? num tempo desse?


NO MEIO DO TRAJETO

Antônio Medeiros retornava de Campina Grande para Catolé do Rocha. Conduzindo uma professora que não parava de falar, relembrando os namoros que havia deixado em Campina.
- “Ah que terra boa é Campina seo Antônio, um povo animado, festeiro, em cada esquina um forró, cada “gato”  eu adoro Campina.
- Mas, eu também gosto muito de Catolé não posso negar sabe? É minha terra natal. Se eu pudesse ficava assim: um pé em Campina e outro em Catolé.

E Antônio que durante a viagem estava só escutando e conhecendo o percurso entre as duas cidades soltou essa:

-Eu preferia fica no meio do caminho e de preferência olhando prá cima!

 

O CÉLEBRE AntÔnio Medeiros
São por demais conhecidas no sertão paraibano Catolé do Rocha, Pombal, São Bento, Patos, Brejo do Cruz e outras mais, as histórias envolvendo o motorista Antonio Medeiros. Seus “causos”, cheios de humor e respostas inteligentes já extrapolaram as fronteiras sertanejas há tempos. Conforme escreve Myriam Gurgel Maia, no seu  “Boca no Trombone”, (Pág. 64,...”Ser caminhoneiro qualquer um pode ser, mas ser espirituoso como Antônio  Medeiros, é difícil encontrar nas estradas da vida”.) Eis dois casos citados no livro:


Sequestro

No combate ao regime militar após 1964, grupos armados no Brasil iniciaram ações terroristas promovendo assaltos a bancos ou  sequestrando embaixadores estrangeiros negociando a liberdade deles em troca de resgate ou libertando presos políticos. A repressão não dava sossego. Nas estradas era bloqueio militar por todo lado, revistando carros de todo tipo e tamanho. Numa viagem do Rio para a Paraíba, lá vinha Antônio Medeiros no seu caminhão e se depara com a blitz. Vários carros sendo revistados. Chega um militar:
- Temos que revistar o carro amigo.
- Pois não! e continuou sentado assistindo a revista minuciosa.
Olharam a carroceria, por cima, por baixo, depois na cabine debaixo do banco, etc. no momento em que abriam o porta-luvas do carro, Antônio perguntou:
- O que vocês estão procurando?
- O embaixador que foi sequestrado.
Não deu outra:
- E ele era pequeno desse jeito? Vôte!
 
“Dona Nini morava em frente à casa de Antônio Medeiros, e todas as noites - como é costume no interior - colocava as cadeiras na calçada e o papo se estendia até alta noite.
Dona Nini é separada do marido, e, como não tinha o que fazer de noite, “papear” era o seu fraco, matava suas insônias na cadeira de balanço ouvindo a boa prosa de Antônio Medeiros, que era sem dúvida quem segurava a plateia com seu repertório de histórias.
- Ô Antônio eu vou te perguntar uma coisa. Você nessa idade, nada tem nada, só muitos filhos prá criar, muitas despesas, não tem um caminhão, trabalha pro outros. Ô Antônio, por que você não estudou?
- Olhe dona Nini eu cheguei a estudar mas, tive que começar a trabalhar desde muito novo. Vida de pobre é assim, a senhora sabe...Não tem infância, não tem adolescência...pobre nasce prá sofrer mesmo.
-Sei sim...ô Antônio, são duas classes sem prestígio: soldado de polícia e motorista de caminhão, num é?
E ele acrescentou em cima da bucha:
-E a outra é mulher separada do marido, dona Nini.
-Ah, com os diabos! Você não deixa de dizer as suas! 


Segurança redobrada
É histórica a antiga rixa das duas famílias Suassuna e Maia em Catolé do Rocha, Paraíba. Principalmente em ano eleitoral. A coisa esquentava pra valer.
Conta, Myriam Gurgel que o “causo” aconteceu mais ou menos assim: - Justino, de saudosa memória, era um agregado da família do prefeito José Sérgio. “Pessoinha distinta”, era a maneira como Justino tratava todo mundo. Certa feita o prefeito viajou ao Rio de Janeiro e deixou a esposa, dona Evinha, uma doçura de pessoa, exposta ao perigo.
Justino, preocupado naturalmente com o clima de tensão e perigo reinante, chegou no alpendre da casa do prefeito e:
— Dona Evinha, seu Zé viajou?
— Viajou, Justino.
— E a senhora tá só?
— Tô Justino, o que é que tem?
— Mas, minha pessoinha distinta, se eu fosse a senhora botava dois homens de sobressalência, quando o Coroné viajasse! É mais seguro.


João “Mamona homem trabalhador e de poucas letras tinha um sonho que nunca pode realizar. Ser vereador em sua cidade, Feira de Santana, BA. Era sempre o primeiro a registrar sua candidatura sem nunca ter logrado êxito. Era sempre o confiante, o que primeiro saía às ruas, o mais empolgado e arrojado. A cada nova eleição, um novo insucesso, mas, ele não arredava, nova disputa e lá estava ele na linha de frente, sempre confiante e otimista que “desta vez vai ser diferente”. dizia a quem perguntava sobre suas chances. - estou esperando um “rebanho” de eleitores que vem  das bandas do Ceará e do Piauí que me prometeram trazer..
Outra vez fizeram o inocente João assinar um requerimento solicitando oficialmente ao juiz eleitoral – considerando sua pouca votação  – que os votos em branco fossem contados para ele. Por pouco não foi preso.
Na última eleição que disputou já idoso, obteve apenas um voto, o dele mesmo. Indignado, perguntou a esposa por que nem ela havia votado “prá ver se você acaba com essa besteira. E tem mais: eu tô casada com você há 40 anos e não votei, imagine o povo”.


VOCÊ BEBE?
Espirituoso, além de poeta nato, Ronaldo Cunha Lima, protagonizou incontáveis "causos" engraçados. Certa vez durante uma consulta o médico curioso e preocupado pergunta. "Ronaldo você bebe?" E Ronaldo: "Isso é uma pergunta ou um convite?".


Tancredo fez história também no Folclore Político outras contadas pelo jornalista José Maria Trindade, seu conterrâneo mineiro:

Segredo 
Um eleitor de São João Del Rey procurou-o aflito:
- Tancredo, um segredo ao senhor. Mas é só para o senhor..
- Não conte não meu filho. Se você, que é o dono do segredo, não é capaz de guarda-lo, imagine eu.

O devoto 
Geraldo Rezende, editor político de O Diário, sábio e santo, conversava com Tancredo no final da campanha para o governo do Minas, em 1960, contra Magalhães Pinto:
- Tancredo, você precisa ter fé. Dê uma passada no Santuário de São Geraldo, em Curvelo, que são Geraldo não esquece seus devotos.
Tancredo foi lá. E perdeu as eleições para Magalhães. Telegrafou a Geraldo:
- Geraldo, São Geraldo esquece seus devotos.
Meses depois, Jânio renuncia, assume João Goulart (Jango). Tancredo é primeiro–ministro, Geraldo telegrafa a Tancredo:
- Tancredo, São Geraldo não esquece seus devotos.
 
Convite
Eleito presidente em 1985, Tancredo Neves era assediado por todos os lados para definir seu gabinete ministerial além dos demais escalões administrativos em todas as esferas e níveis de governo. Um correligionário do interior mineiro vai consulta-lo: Dr. Tancredo em minha região estou em maus lençóis. Não sei o que dizer, ao meu povo....
- O que está acontecendo?
- E um comentário geral se eu vou ser aproveitado em seu futuro governo, ou não. Até a oposição fica fazendo chacota comigo. O que eu digo a eles?
- Faça assim. Quando chegar, diga que eu lhe convidei e insisti, mas, que você não aceitou. Depois, quando eu for por lá, eu confirmo a história. Vá em Paz.


Figueiredo e Tancredo Neves
Li muitas passagens interessantes envolvendo o falecido presidente Tancredo Neves. Tem lugar de honra também no folclore político brasileiro, e, recordo algumas delas. Outras, o vento da memória já soprou.
“ O presidente Figueiredo conversava com amigos, em um jantar no Rio: 

- Esse Tancredo está-me saindo pior que a encomenda. Quando estivemos juntos, eu disse a ele: Tancredo, você precisa assumir a oposição, ser oposição!  Ele tomou gosto e agora está tão radical, nos seus discursos quanto o Brizola.


O Taifeiro  auto promovido a Oficial 
A história, embora verídica, é difícil de acreditar que tenha ocorrido. Moraes era uma figura por demais simpática. Além de meu vizinho, era um fiel companheiro de “bicadas”, nos botecos da afamada Rua da Lama, (isso mesmo: nome oficial, com placa e tudo), no bairro da Mangueira em Recife. Corria o ano de 1966. Eu, com 21 anos, ele já idoso, já na reserva,  gostava de lembrar suas inúmeras aventuras enquanto serviu na Aeronáutica, como taifeiro-mor  - (ou chef de cozinha nos tempos atuais), - no Cassino dos Oficiais.
As “saídas” noturnas do quartel sempre resultavam vez por outra em xadrez temporário para Moraes. Mas, a maior delas em que se meteu na Base Aérea do Recife, foi suficiente para afastá-lo da corporação, em definitivo e está na memória de muitos companheiros ainda vivos.
Tudo teria acontecido mais ou menos assim, conforme sua narrativa (já se passaram muitos anos, mas vou tentar lembrar-me dos detalhes.
Certa noite, Moraes saiu do alojamento às escondidas,  como era de costume - levando um “tira-gosto”. Cruzou a pista militar, depois a pista civil, (correndo um risco tremendo), desviou da segurança, e área iluminada de embarque/desembarque, indo pelo setor de carga até alcançar a rua. Ficou bebericando num bar na Av. Barão de Souza Leão, (em frente ao aeroporto dos Guararapes) com acesso para praia de Boa Viagem.
 O medo era se deparar com o jipe da PA (Polícia da Aeronáutica), rondando as imediações do Aeroporto.
Pela madrugada, relatou Moraes:
“num pé e noutro, consegui fazer o mesmo percurso, mas, não enxergava o meu alojamento. Aí eu vi uma rampa, subi... tinha uns fardos de mercadoria, me deitei por cima dos sacos - pra ver se melhorava um pouco - mas aí... peguei no sono”.
(Havia entrado num avião “Globmaster” um grande cargueiro da USAF, que quinzenalmente trazia comida, roupas e remédios, dos Estados Unidos, doados pelo governo daquele país, na famosa campanha  Aliança para o Progresso).
A aeronave decolou ao amanhecer, e, somente horas depois, um dos americanos descobriu Mergulhão roncando no meio da carga, já no espaço aéreo da Guiana Francesa. Informado da ocorrência, o comandante solicitou permissão para pousar e desembarcar o incômodo clandestino, que se identificara como oficial lotado na Segunda  Zona Aérea em Recife. O cônsul brasileiro em Caiena, informado do ocorrido, acolheu o “oficial”  e o mandou de volta num avião dos Correios dias depois.
Ao desembarcar em Recife, foi recebido na Base – “com todas as honras militares” - por um graduado da PA acompanhado por dois soldados, um par de algemas e o famoso  jipe que tanto ele temia.

 

Militares “cassados”

Contam que o popular “Bolo-Bolo” vendia jornais antigamente em Caicó.   Passando na Vila dos Oficiais do lº BEC (Batalhão de Engenharia e Construção), - com os pacotes de jornais debaixo dos braços, - quis acelerar as vendas e saiu gritando a principal “manchete” do dia:
Olha aí, saiu a relação dos militares cassados pelo AI-5!!” . Assustadas, as mulheres dos militares foram aparecendo e perguntando em qual dos jornais havia aquela notícia e ele, sentenciava: “Tem que comprar os dois: (Diário de Natal e Tribuna do Norte)pois eu não sei qual dos dois traz a relação!!”.


O CRIATIVO João prefeito

Em Caicó, as histórias mirabolantes e criativas de João Prefeito – ou “João rabo grosso” são sempre lembradas. Motorista dos mais competentes e dedicado servidor público, sentia-se realizado quando era convocado para as mais diferentes tarefas e sempre dava conta do recado. Certo dia foi a Natal com a secretária de educação de Caicó. Enquanto ela resolvia umas pendências, no Centro Administrativo, ele foi ao bairro do Alecrim pegar umas encomendas.
As horas passando e nada de João retornar. Impaciente, a secretária  foi aguardar na entrada do prédio, ansiosa para voltar a Caicó. Até que enfim, ele apareceu.
— O que foi que houve homem? Aconteceu alguma coisa?
— Se eu contar a senhora não acredita. Na volta do Alecrim, perto  daquele trevo da Prudente de Morais diga quem eu encontrei?
— Quem?
— Odiléia.
Só vi o grito: João! João!  Eu parei e encostei o carro na calçada.
Aí só deu prá mim - ela quase não para mais de conversar, perguntando sobre fulano, beltrano de Caicó, - um converseiro danado  - ainda queria que eu entrasse para merendar, eu agradeci.
Eu disse que tinha muita coisa para resolver em Natal e precisava voltar pra Caicó.
 É danado… Esse povo acha que a gente vem aqui é pra passear… Né verdade?
— É verdade João... concordou — Mas, quem é mesmo essa tal  Odiléia?
— Oxente?  Vá me dizer que não conhece  dona Odiléia Mesquita? A mulher do governador Geraldo Melo? A primeira dama do Estado?
 

Sinal vermelho
Almino Clemente, fazendeiro de Caicó era fiel seguidor do senador Dinarte Mariz, um “Dinartista de bandeira encarnada”. Quando instalaram o primeiro sinal de trânsito em Caicó, no cruzamento das Avenidas Cel. Martiniano com a Seridó, lá vinha Almino, da fazenda, na velha camioneta Chevrolet 60. Ao perceber o sinal verde, ele parou. Alguns circunstantes advertiram: “Pode passar Almino o sinal tá verde!” O renitente Dinartista olhou de lado e respondeu bruscamente:
— “Tô doido, não?! Esse verde é de Aluízio Alves”.
Quando o sinal mudou para o vermelho, Almino Clemente abriu um sorriso e comentou alto:
— “Agora eu passo, porque o vermelho é do meu compadre Dinarte”.
E não abria mão desse entendimento nem para um trem.


NO VASO SANITÁRIO outra de seu Ernesto
Outra feita, ainda convalescendo, sentiu necessidade de ir ao banheiro e foi ajudado pelo filho. Como estava demorando muito no vaso sanitário, a esposa perguntou:
— Ernesto, já terminou?”.
Momentos depois, perguntou novamente. Ernesto mandou o recado pelo filho:
— Pergunte aí a sua mãe se eu estou cagando com o c...dela”.
 

Bonzinho de ASSu
Fernando Caldas, contou, que um seu conterrâneo lá do Açú, (sic) o popular “Bonzinho”, estava bebendo em um bar da cidade, quando foi surpreendido por Joca Marreiro, seu pai, que o convidou para ir dormir, pois já era tarde da noite. Aceitou o convite paterno, mas foi solene e taxativo:
 “papai vá na frente, pois o mundo tá cheio de gente ruim”.
 
Só quero quem me quer...
Ernesto Enéas, era uma figura bastante conhecida em Jardim do Seridó, no Rio Grande do Norte. Motorista de praça (taxista, atualmente) bruto, teimoso e ignorante, acima de tudo. Não perdia oportunidade para revelar seu gênio. Durante uma corrida, o vento levou o seu chapéu.
O passageiro preocupado, avisou:
— “Seu” Ernesto seu chapéu voou!
— “Eu só quero quem me quer…Dane-se!”, - respondeu o velho grosseiramente, prosseguindo a viagem.

 

 "seu” Ernesto SEM GASOLINA
Seu Ernesto dirigia-se a cidade de Cerro Corá. Um pouco antes de chegar, numa ladeira, faltou gasolina.
Minutos depois passou um conhecido e perguntou:
— O que houve, seu Ernesto?”.
— Faltou gasolina.
— Não se preocupe, eu tenho um pouco de reserva, posso lhe emprestar.
— De maneira nenhuma. Um homem que deixa faltar gasolina no carro e dinheiro no bolso não deve ser ajudado. Vou buscar a pé para aprender”.

 

O alimento  é a notícia
O jornalista Cláudio Humberto Rosa e Silva inseriu no seu livro “Mil Dias de Solidão”, alguns episódios do folclore político e social ocorridos na “terra dos marechais”. Vale lembrar que o livro é considerado o mais completo perfil da ascensão de Fernando Collor na política nacional, - Humberto, foi assessor de imprensa desde a campanha a governador de Alagoas, sendo depois seu porta-voz na presidência da República.
Relembramos algumas passagens do livro, algumas sérias, trágicas e cômicas envolvendo vários personagens do cenário alagoano.
Aldo Ivo, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, entra no gabinete de Arnon de Mello, dirigente da “Gazeta de Alagoas”, para uma conversa séria sobre a calamitosa situação dos funcionários, mal remunerados e cansados de exploração. Arnon recebe-o com cordialidade e após ouvir a explanação do sindicalista, passou a fazer um discurso sobre a importância da profissão, afirmando que considerá-la autêntico sacerdócio:
Aldo, já impaciente:
— Senador, eu concordo com o senhor, mas, os jornalistas da Gazeta já estão passando fome.
Arnon ficou de pé, estendeu a mão ao presidente do Sindicato dos Jornalistas e encerrou a conversa com uma frase indignada:
— Um jornalista deve alimentar-se de notícias, meu filho.

 

Máquina de Costura como cabo eleitoral
Arnon de Mello, homem dotado de sólida formação intelectual, contista, poeta, jornalista e de bons modos. Nos anos 20 e 30 conviveu e participou de movimentos literários ao lado de Jorge de Lima, Graciliano Ramos que ganhariam depois dimensão nacional. Mas, em política também aprontou e assegurou lugar no folclore político do Estado de Alagoas.
Conta Cláudio Humberto:
Candidato a governador em 1950, Arnon chegou à cidade de Atalaia, a 40 quilômetros de Maceió, para iniciar uma série de comícios no interior. Em cada cidade, no meio do discurso apontava para uma máquina de costura Singer, sempre à vista de todos, em cima do caminhão transformado em palanque, e explicava:
— Vocês estão vendo essa máquina de costura? Estou levando depois do comício para a cidade de Marimbondo, onde mora dona Raimunda, vocês devem conhecê-la, é uma costureira, uma pobre viúva, cujo único filho morreu e tem uma filha inválida. Não tem ninguém, mas, tem um sonho: possuir uma máquina de costura e daí garantir seu sustento sem precisar mendigar nada a ninguém… A multidão, emocionada, aplaudia o generoso gesto de Arnon.
Em todo comício, a cena se repetia e novamente a história era contada, apenas trocando o nome da cidade. E assim, a máquina Singer, na condição de cabo eleitoral, percorreu com Arnon todo o Estado de Alagoas na sua vitoriosa campanha.
(No Rio Grande do Norte algo similar ocorreu numa campanha de Carlos Alberto, só que, em vez da máquina de costura, era uma geladeira).
Uma rivalidade que começou no plano político enveredou para o pessoal, como muitas histórias de violência como instrumento político, para manter ou conquistar o poder. Os personagens: Arnon de Mello e Silvestre Péricles de Góis Monteiro, personificaram em Alagoas, nos anos 50 e 60 uma história que se repete ao longo dos anos por esse Brasil afora.
Atesta com toda propriedade quem viu e viveu esse cenário, o jornalista Cláudio Humberto, no seu livro “Mil Dias de Solidão” na página 127. “ Em Alagoas, como aliás, em todo o Nordeste, exercitava-se naquela época uma dialética muito particular – a dialética do trabuco. O domínio pelo medo, pela força bruta, pelo uso das armas, pela garantia da impunidade. Essa rivalidade quase irracional entre Silvestre Péricles e Arnon fez sofrer ambas as famílias e também pessoas que nada tinham com a disputa”.
 

Babá de Jacaré?
Uma passagem na vida do mestre Câmara Cascudo. Certo dia recebeu uma carta de um professor da Universidade Americana de Yale, com uma indagação: “Mestre, jacaré dorme de noite ou de dia?”.
A reação de Cascudo indignado:
“Eu tenho cara de babá de jacaré?...Tudo isso acontece em razão da minha laboriosa inutilidade” — desabafou o mestre, em cima do questionamento americano. Esses gringos saem com cada uma!
Preconceito
Num dos cursos de aperfeiçoamento para professores da rede estadual em Caicó, - não recordo o ano - presenciei um fato que nunca vou esquecer. Uma das palestras abordava o preconceito racial, a miscigenação do povo brasileiro, etc.
Atrás de mim duas professoras comentavam:
— Eu não tenho nada contra a pessoa ser negra ou branca. Pra mim todos são filhos de Deus...
— Eu também colega, se uma filha minha vier a namorar ou casar com um negro tanto faz... Eu não tenho nada contra..
Depois de um intervalo as atividades são reiniciadas. Formam-se pequenos grupos para abordagem dos temas e apresentar as suas conclusões. Em dado momento, escuto para minha surpresa o seguinte dialogo das duas que antes "não tinham nada contra":
— Criatura e sobre essa questão de nascer mais negros do que brancos na África, o que tu acha? Por que será?
— Sei lá… Acho que deve ser castigo!
Água “feuvendo”
Vamos chamá-la de Zefinha, doméstica do versátil professor Lima Júnior, em Patos, Paraíba. Contou ele que, numa manhã colocou água numa chaleira preparando o café da manhã. Chega Zefinha:
— Bom dia, seu Lima já colocou áugua pra feuver?
— Não é “feuver”, Zefinha… O certo é ferver!
— Eu sei professor... Tomém… É só meu modo de falá, intende? Eu sei qui o certo é freuver!
E Lima:
— É, criatura... Mais ou menos isso... Fazer o que, né?
Biu doido e o chocalho
O poeta-compositor Zé Marcolino, contava “causos” de uma figura muito popular em São José do Egito-PE, - “Biu doido”, - que na verdade, de doido mesmo tinha muito pouco.
Certo dia “Biu” ia andando com um pequeno chocalho na mão, quando aproxima-se um popular:
— Oi Biu, me dê esse chocalho de presente para eu colocar num carneirinho que eu tenho lá no sítio...
E Biu doido:—  Faça assim, me dê seu carneirinho de presente e eu boto meu chocalhinho nele...!
Reunião secreta
Wilson Baga e Ronaldo Cunha Lima articulavam acordo político. Wilson propõe: indique um local seguro em Campina, onde agente possa conversar sossegadamente, sem ninguém nos ver e longe dos “bisbilhoteiros” de plantão...
Ronaldo respondeu: - O melhor lugar para isso é o Instituto dos Cegos.
Sempre servindo
Eleitora se aproxima de Ronaldo e se queixa:
- Ronaldo você mudou muito, não e mais aquele rapaz humilde quando eu conheci quando era garçon.
- E Ronaldo devolve:
- Não mudei não, sou o mesmo, - continuo servindo - só que de forma diferente.


Celso da Silveira perfil
Celso da Silveira, filho de tradicional família do Assu, a “Atenas do RN”. Seu pai, poeta, jornalista e advogado, era João Celso da Silveira Borges Filho, um nome sempre reverenciado e presente na história daquela cidade do RN. Celso, sempre fiel às suas raízes, era um misto de poeta, boêmio, escritor, historiador, professor universitário e jornalista. Esta na história de Natal.
 
   Como poeta não morre, vira estrela, - como os anjos - Celso foi para o céu no dia 2 de janeiro de 2005, aos 75 anos. Deixou viúva a poetisa Myriam Coeli, com quem se casou no final dos anos 50, e os dois filhos Eli Celso, também poeta, e a jornalista Cristiana Coeli.
   Celso fundou a Editora Boágua e foi autor de extensa obra que reúne memórias, poesias fesceninas, entre outras. Nessa editora, ele lançou várias obras – dele e de outros autores. Entre as obras de Celso, lembro de “Glosa Glosarum” e de “O homem ri de graça” onde ele conta muitos “causos” realmente acontecidos e todos curiosos e engraçados, como estes.
 

De Rã 
Em Nova Cruz–RN, era comum o time de Guarabira-PB, ir jogar naquela cidade. O destaque paraibano era o famoso Sebastião, o popular “De Rã”. Decidia qualquer partida, mesmo só começando a jogar no segundo tempo quando diminuía a intensidade da luz solar (por ser albino, o jogador mal abria os olhos em tardes de sol forte). Quando pegava na bola a torcida em coro gritava: “De Rã! De Rã!” Era o herói, o vencedor, sem igual. Certo domingo, o time de Nova Cruz novamente perdia para o Guarabira. Entra De Rã para o delírio da torcida, e emplacou mais dois gols.
No final da partida, o locutor do serviço de alto falante da Paróquia foi entrevistar Sebastião “de Rã”.
— Por que esse sobrenome “De Rã”? Alguma procedência francesa?
— Não, não, é meu apelido no futebol. Me chamam “Cu de Rã” porque eu sou muito branco... Mas é inconveniente a torcida ficar dizendo isso em campo, aí, fica só “De Rã” mesmo.
 

Não é para mergulhar
   Atanásio comprou um cavalo novo, ainda para amansar. Indo para casa, cedeu o animal para um vaqueiro experimentar. O homem deu três voltas na praça de Angicos, em redor da igreja e riscou o cavalo em frente a Atanásio, que lhe perguntou:
    — Que tal o cavalo? É bom mesmo?
    — É, mas achei que não tem muito fôlego não,
    — Então tá bom, eu comprei ele para andar não foi para mergulhar!
 

Os buracos na cidade
    Walter de Sá Leitão, quando prefeito do Açu (respeitando a grafia antiga) viajava boquinha da noite, de Angicos para Açu quando o motorista entrou em um péssimo trecho da BR até a cidade.
     Walter despertou de um cochilo e foi logo esbravejando:
     — É muito filho da égua um prefeito que deixa uma estrada num estado desses!
     O motorista advertiu que estavam chegando ao Açu, onde ele, Walter, era o prefeito.
     E Walter, sem recuo:
— Já disse, e não volto atrás. É filho de uma égua e fresco!

 

Dor na Macaxeira
    No Córrego do Maia, sua fazenda Walter pergunta a uma moça que lhe veio pedir transporte para levar o marido dela ao médico, em Açu.
    — O que é que ele tem?
    — Comeu ontem a noite uma macaxeira e amanheceu hoje com uma dor no pé da barriga.
    — É o contrário de mim. Eu ontem comi um pé de barriga e amanheci com uma dor na macaxeira.

 

Salário Justo
    Quando Walter Leitão terminou seu mandato de prefeito, foi ser industrial da construção civil, instalando uma fábrica de mosaicos. Xico Graxeiro, seu empregado, via Carlos Augusto, “Dudu”, filho de Walter sem ter o que fazer na fábrica, e reclamou do patrão, que, enquanto ele ganhava “x”, Dudu nada fazia e ganhava duas vezes mais de salário.
    Foi quando Walter arrematou:
    — Compadre Xico, você deixa eu fazer com sua mãe o que eu faço com a mãe desse menino?
 
Não Vale Merda ( Celso da Silveira em “O homem ri de graça... pág 38)
     
 “Essa se passou com o velho Américo Wanderley e o seu filho Luís, oficial reformado da Marinha, conhecido desde menino por Lucas. Américo Wanderley estava com 95 anos e sete meses, esclerosado,  caducando, não juntava “mé-mé com bé-bé”. Quando moço, foi herói  da Campanha do Acre,  como homem de confiança de Plácido de Castro. Pois bem, agora, em idade avançada, vivia seus últimos dias deitado numa cama, nu, em cujo quarto só podiam entrar seus filhos homens. Lucas todos os dias visitava o pai. Uma vez o velho lhe chamou:
   - Luís,
   - Pronto meu pai estou aqui.
   E Américo, balançando o pênis com uma mão, dizia:
   - Vem conhecer quem, te fez...!  essa miserável hoje, não vale merda!”
Bandeira do Brasil
Durante o tempo em que trabalhei na Prefeitura de Caicó, conheci muitos personagens interessantes. Um deles foi o Cabo Neto (na época, “Cabo Juruna”, ainda sem a promoção oficializada). Neto era um policial militar que ficou à disposição do gabinete do prefeito Sílvio Santos durante todo seu mandato. Era um tipo prestimoso e querido por todos.
    Numa sexta-feira, com a aproximação do 7 de Setembro, dei algumas instruções ao Cabo:
    — Neto, a partir de segunda-feira, começa a Semana da Pátria. O amigo deverá hastear as bandeiras do Brasil, do Estado e a do Município  todas as manhãs, a partir das 6 horas, e arriá-las no final da tarde, as 17horas. Sempre na mesma posição: à esquerda, a bandeira de Caicó; no centro, a bandeira do Brasil e à direita a do Estado (sob a visão de quem está de frente para elas). 
— Certo chefia… A abandeira do Brasil ainda é a mesma? Ou vai colocar a outra?
     E eu, sem entender:
— Até onde sei é a mesma, Neto…Se mudaram foi de ontem pra hoje. Será??
E Neto:
Eu pergunto é porque o senhor mandou comprar uma bandeira nova na livraria de Roberto. Essa que a gente vem usando já está muito desbotada e tá se rasgando
— Ah! Agora compreendi… Coloque a outra…
 

 

O leite da Prefeitura
    Durante o Programa de leite pasteurizado gratuito para pessoas carentes, o Governo do Rio Grande do Norte fizera convênios com as prefeituras para coordenar a distribuição. Às vezes, ocorriam interrupções no fornecimento do leite. Nessas ocasiões, os beneficiados se dirigiam à Prefeitura para colher informações sobre a normalização do atendimento.
    Certa manhã de segunda feira, avistei o Cabo Neto conversando com uma senhora nas escadarias da Prefeitura.
    — Seu César — ele me disse. — Esta senhora veio aqui saber se o leite da Prefeitura já chegou, ou se ainda vem esta semana.
   Orientei a senhora a procurar a Secretária de Ação Social. Mas perguntei a mim mesmo: "será que a Prefeitura pariu e eu não sabia?"
 
Problemas para o RN
    Na Campanha Eleitoral de 1996, em Caicó, Paraíba, saímos, eu, Júnior Pereira e Toinho “Relojoeiro” (amigos que já estão no andar de cima), para dar uma olhada num “comício relâmpago”, na praça de Santa Cruz, do bairro Barra Nova. Lá pras tantas, o locutor César Rocha, anunciou a presença de um importante líder político, e começou a discursar muito empolgado, enaltecendo os candidatos da coligação. Encerrando o discurso, fez referência especial ao candidato majoritário, o usineiro Geraldo Melo. Elogiou sua coragem, e sua competência política e empresarial, “ele sim, merecia o voto”, e concluía sob o costumeiro “muito bem!!!” dos presentes e seguido do tradicional foguetório.
    E encerrou:

   — Quero encerrar, meus amigos, dizendo que os nossos adversários não têm um homem com a capacidade e a qualidade de Geraldo Melo! Só ele é capaz de resolver os problemas de que o Rio Grande do Norte precisa!

 

Naninho e Kenão

   Fábio, (Naninho) motorista filho de “seu Cleto”, da Algodoeira em Caico. Tem um porte físico e altura expressiva, quase dois metros, um apetite de fazer inveja a qualquer vivente. Em diversas ocasiões encontrava em Natal outro notório comilão e agigantado também nas medidas, o popular “Kenão” de Caicó. Num desses encontros, os dois gigantes combinaram de almoçar numa conhecida Churrascaria gaúcha de Natal que, salvo engano meu, ficava na Av. Roberto Freire. Sentaram e começaram e “degustar” todo tipo de carne que os garçons ofereciam.

   O tempo passava e eles não paravam de comer. Nada escapava que viesse num espeto: o que ofereciam, eles traçavam. Lambari, picanha, frango, carne de porco, linguiça, coração de frango, uma verdadeira despolpadeira de usina.

   O tempo passava e nada de arroz, feijão, macarrão, verdura. Só carne, carne e somente carne, não tinha limites, fora isso, apenas um pouco de vinagrete e farofa como complemento. Já desconfiados ou por recomendação, os garçons não passavam nem por perto dos dois mas, não adiantava:

    — Ei garçom! Não passa aqui mais não, é?

  A coisa chegou a um ponto que foi preciso o gerente ir até eles e pedir educadamente que da próxima vez procurassem outro estabelecimento.

 

 

- “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo” - Eça de Queirós;

 

Receita médica como salvo-conduto

Sandoval era grande figura humana, muito popular em Mossoró. Uma vida repleta de fatos  engraçados. Muitas relacionadas às “bicadas” de aguardente. Contou seu filho, Silveira Neto, repórter e colega de trabalho na imprensa nos anos 70 na “capital do Oeste”. O caso aconteceu assim:

Num sábado à noite Sandoval bebia com um colega no bairro Paredões e devido  a quebra acidental de um copo, começaram a discutir com o proprietário. Este chamou a polícia. Sandoval pagou a despesa e o prejuízo, mas, o colega teve que ser levado para a delegacia (era o mais alterado) e passar o resto da noite detido.

O cel. Waldomiro Fernandes era o delegado e também comandante do Batalhão da Polícia Militar.

No plantão, na DP, um velho conhecido, de Sandoval, o soldado apelidado  “Catota” que mal sabia ler e escrever ( um policial manso, amigo de todos e que muito raramente dava voz de prisão. ingressara na Polícia Militar numa época em que os jovens pobres só tinham duas opções na vida: ir embora num circo ou “sentar praça”).

Sandoval explicou que o rapaz apenas tinha se descontrolado na bebida e que na manhã falaria com o delegado.

Catota:  - Eita, Lembrei agora, o homem viajou “prá” Natal... só na segunda feira. - Não acredito... o que eu faço?

Pronto. Vá na casa do deputado Vingt Rosado, peça a ele uma ordem que eu solto seu amigo amanhã.

 Chega Sandoval na casa do deputado. Ver uma mulher varrendo a calçada.

Bom dia moça, sabe dizer se dr. Vingt  já se levantou?

Essa hora? dia de domingo?  É difícil... mas, se quiser esperar, tem uma cadeira ali na área..

Sandoval sentou e ficou de ouvido ligado. Dez minutos depois e nada, silêncio total na casa.

Muito gentil, a moça trouxe um cafezinho. Acabei de fazer agorinha, aceita?

Aceito, moça muito obrigado. Tomou o café, depois levantou foi até a calçada, resolveu acender um cigarro. Ao retirar o maço de cigarro e o fósforo do bolso da camisa, deixou cair um papel. Era uma receita médica do Dr. Leodécio Néo. 

Pensou: “essas letras só quem entende é o pessoal de farmácia”. E foi direto para a delegacia.

Bom dia “Catota” tá aqui a ordem do dr. Vingt.

“Catota recebeu a tal “ordem de soltura” fingiu que leu e guardou numa gaveta para entregar ao delegado.

Desse dia em diante Sandoval rezava para nunca mais avistar  Catota, nem de longe.

 

Nessa rua não...

Outra envolvendo o soldado “Catota” Esse caso foi repassado a mim pelo radialista Marco Antonio, eu e ele já residindo em Caicó.

Certo dia, conduzindo um sujeito à delegacia Catota recebe deste um apelo:

Peço por tudo que é sagrado: evite eu passar por outra humilhação, eu sendo levado preso e passar justamente nessa rua.

- E o que é que tem nessa rua?

Eu estou devendo mercearia ali na frente, faz tempo. O dono me chama de velhaco todo santo dia. Vamos por aquela outra rua...

“Catota” de mão no queixo, pensativo...

 - Dá certo não, naquela rua eu é que não posso passar...também devo num açougue que tem lá....faz tempo... Vamos fazer assim: Tú vai por lá que eu vou por essa rua “mermo” e a gente se encontra na frente do Mercado.


No muro não fica ninguém

Clássico local, Potiguar e Baraúnas no velho estádio Leonardo Nogueira em Mossoró, ainda sem arquibancadas muitos torcedores escalavam o muro para ver o jogo sem pagar . O presidente da Liga  convoca o policial Catota para resolver o problema, “pega esse seu cassetete, um pedaço de pau, uma vara seja lá o que for para tirar esse pessoal de cima do muro” e completou: “não quero ninguém em cima do muro, todo domingo é essa mesma coisa a renda diminui não dá para cobrir nem as despesas. Depois da preleção volta-se para o coitado do policial..

 - Você entendeu Catota? Não deixe ninguém no muro...faça valer sua autoridade...resolva pelo amor a Deus...

- Minutos antes de começar o jogo, o muro repleto de torcedores.

Catota se aproxima e grita com a maior autoridade:

- Oia aqui gente, o prisidente da liga disse que num é prá ficar ninguém no muro, Se quiser ver o jogo tem que sê aqui do lado de dento ou então vão s’imbora prá casa....No muro não é prá ficá ninguém de hoje em vante... Problema resolvido!   

 

Pinto do Monteiro e João Furiba

Certa vez, perguntaram ao imortal Pinto do Monteiro (*) quem, na sua vida de cantador o colega  que lhe dera mais trabalho e ele respondeu em cima da bucha:

— o maior foi João Furiba (falecido recentemente) que me tomava dinheiro emprestado e não pagava.

 

(*) Desde menino eu ouvia meu pai contar as histórias do seu conterrâneo Pinto, com quem conviveu no seu tempo de rapaz em Monteiro, na Paraíba. Além de Pinto, outra figura sempre lembrada por meu pai era o poeta Antônio Marinho – esse o maior de todos – além de versos, improvisava respostas rápidas, inteligentes e mordazes conforme o assunto e a ocasião.

A propósito: lá pelos anos 50, meu pai patrocinou várias cantorias em Feira de Santana–BA, sob o nome de sua Aguardente Patury, para espanto e admiração de muitos baianos. Poucos conheciam ou sabiam o que era o repente de viola. A Engarrafadora Patury foi também a empresa que construiu e fez desfilar o primeiro Trio Elétrico numa Micareta da Feira. Até então os trios elétricos vinham de Salvador, sendo o da Coca Cola o mais famoso e disputado pelos foliões naqueles anos 50.

 

Tire a perna

Meu pai contava que certa vez Antônio Marinho estava postado em frente da Igreja de São José, padroeiro da cidade, momento em que chega uma velhinha sua conhecida e pergunta;

— Seu Antônio sabe dizer se a missa já entrou?

E ele não perdeu a chance de soltar mais uma das suas tiradas:

— Só se entrou por outra porta... Faz uns 20 minutos que estou aqui e não vi ela passar, não…

A velhinha resmungou:

— Esse homem não tem jeito não. Não perde tempo, vou assistir minha missa. — E, abusada, disse: — Sai da frente! Tira a perna do meio pr’eu passar...

— Pode passar... mas, “a perna do meio”, essa eu não tiro...

 

A BEnção, padrinho...

Antônio Marinho fez uma série de apresentações na Rádio Clube de Pernambuco*, ao lado de um companheiro de viola. As duplas, como era comum antigamente, de viola no braço, trajando paletó, chapéu e gravata. Antes de irem para os estúdios da “pioneira”, os dois violeiros resolveram dar uma passada no Cais do Porto (hoje o famoso Marco Zero do Recife Antigo). Admirados com a beleza do mar e o movimento dos guindastes carregando e descarregando fardos e mais fardos de mercadorias dos navios. Em dado momento, alguns rapazes escolheram Antônio Marinho como vítima de gozação – combinaram todos ir pedir a sua benção.

Um por um foram se aproximando do violeiro.

— Minha benção, meu padrinho...

E Marinho, sério:

— Deus te abençoe meu filho.

Chegava outro e Marinho:

— Deus te faça feliz...

E assim foi abençoando os rapazes. Ainda estavam todos próximos, e rindo, quando o parceiro de Antônio Marinho, estranhando aquela quantidade de afilhados, perguntou:

— Ôxe, Antônio, esses meninos… São todos teus afilhados?

E Antônio Marinho sempre olhando para os rapazes:

— Afilhados não, são todos meus sobrinhos... Filhos de uma irmã minha que deu pra puta e tem um cabaré aqui perto, na Rua da Guia**.

*A Rádio Clube de Pernambuco foi fundada no dia 06 de abril de 1919, conforme noticiado no dia seguinte, 07 de abril, pelo Jornal do Recife, hoje extinto.

**No Recife antigo, a Rua da Guia era famosa por concentrar o maior número de prostíbulos da cidade.

 

O nome do pai?

Antônio Marinho conversava com um amigo na calçada do Banco do Brasil em São José do Egito. Dois gaiatos se aproximam e mesmo sabendo de quem se tratava, resolveram chatear o velho cantador já muito ruim da vista devido a avançada idade.

— Bom dia, seu Antônio, meu pai e minha mãe mandam lembranças pro senhor.

E Antônio:

— Bom dia, meu filho. Muito obrigado. Como vão seus pais? — Mas sem reconhecer quem falava, arriscou: Desculpe, você é filho de quem?

O outro gaiato foi quem responde:

— Ele é filho de fulano.…

E cita o nome de uma figura importante da cidade. Mas o primeiro contesta o colega.

— É não seu Antônio, ele está enganado, eu sou filho é de sicrano.

E os dois ficam rindo e revezando nomes de pessoas importantes da cidade. Antônio Marinho resolve dar um fim na conversa:

— Meu filho, veja logo se você descobre mesmo quem é seu pai, porque sua mãe eu já sei quem é…

 

O jumento e o soldado

Conta-se que ainda jovem Pinto do Monteiro ia levando um jumento puxado numa corda para pastar. Ao passar em frente a cadeia pública, um soldado, sentinela de plantão grita:

— Ei menino, vai levando esse colega pra onde?

— Vou levar pro quartel pra se apresentar, tá doido pra ser soldado da “puliça”.

 

Mensagem de Fé

    O Monsenhor Humberto Brunning, da Catedral de Santa Luzia, em Mossoró, apresentou durante anos um programa dominical “Mensagem de Fé”, logo após a “Hora do Angelus”. As reflexões sobre temas religiosos, eram intercaladas com a divulgação das graças alcançadas pelos fiéis pelo próprio sacerdote apresentador.

    Esses relatos eram enviados através de cartas durante a semana e depositadas numa pequena urna de madeira na recepção da rádio. Os testemunhos de gratidão eram, em sua maioria, acompanhados de algum donativo em dinheiro e religiosamente “padre Humberto”, como a turma o tratava, fazia também referência ao valor depositado:

    — Dona fulana (dizia o nome da remetente) enviou o valor de “x” por uma graça alcançada em fervor e testemunho de sua fé perante (e aí citava o santo ou a santa) e concluía dizendo qual a graça que fora alcançada.

    Num certo domingo, leu:

    — Dona fulana mandou tantos cruzeiros por uma graça alcançada perante nossa padroeira, Santa Luzia. É que o filho dela passou no vestibular da ESAM, e toda a família está muito feliz e agradecida! Muito bem, eu felicito a todos...

E completou, em voz baixa, enquanto abria outro envelope:

    — A Santa com certeza deu uma ajudinha, mas se não tivesse estudado eu queria ver se ele passava…

    O sensível microfone do estúdio ficava permanentemente aberto durante todo o programa como ele sempre exigia.

 

A bronca do Monsenhor

    Num certo domingo o “controlista” era Aloísio Severiano. O irmão, Renato, havia lembrado que durante o programa do “padre” Humberto, ficasse atento, porque este se aborrecia com qualquer coisa que viesse atrapalhar a leitura dos seus textos. Tudo bem...

    Era comum – e toda a equipe da Rural sabia – que monsenhor Humberto, às vezes se aproximava ou se afastava demais do microfone o que dificultava manter controle do som (o nível de modulação ideal ) a ponto de, sua voz quase não ser captada em certos momentos. Impaciente e querendo resolver o problema Aloísio se levantou, entrou no estúdio, e aproximou mais o microfone do rosto do monsenhor, que de imediato ficou serio, calado.

    Ao retornar para o controle, ouviu o sacerdote, detonar no ar:

    — Quando eu precisar de ajuda eu chamo e não gosto que interrompam enquanto estou lendo!

  Os ouvintes, claro, não entenderam o recado.

Só o pobre do Aloísio, depois desse “rela”, até o fim do programa olhava pra todo lado menos de frente, para o padre.

    Depois contou ao irmão o episódio e Renato:

    — Eu não falei?!

 

O Monsenhor e o mel

    Monsenhor Humberto Brunning criava abelhas e a qualidade do mel oriundo dos seus apiários era algo disputadíssimo. Num encontro casual e, após cumprimentá-lo, fingi que estava com sério problema de garganta que vinha me atormentando a vários dias. Disse que tinham recomendado o uso de mel com limão. Mas um mel puro pois, os vendidos no mercado não eram muito confiáveis.

    E ele:

    — Pode deixar, semana que vem eu trago um mel de jandaíra, que é um santo remédio.

    Passei a semana pensando na garrafa de mel. No domingo seguinte, assim que me viu deu a boa noticia:

    — Trouxe seu mel

   Eu ja imaginando receber uma garrafa, ou pelo menos uma garrafinha daquelas de água mineral, para minha decepção e surpresa, ele abriu uma pasta de couro e me entregou um vidrinho daqueles de penicilina, com a tampinha de borracha, com o seu famoso mel.

    Recebi, tentando disfarçar meu desapontamento, mas, agradecendo o seu gesto.

    Perspicaz, o monsenhor não perdeu tempo:

    — Você não disse que o mel era para fazer remédio? ... Esse aí dá de sobra, se fosse pra comer com farinha, eu trazia um litro.

    — Claro, monsenhor. Muito obrigado, está certo. Essa quantidade é suficiente...

 

O periquito verde

Havia em Mossoró, pelos idos dos anos 70, um morador do bairro Aeroporto, muito conhecido, o popular “homem do carneiro”. Seguidor de Aloísio Alves, (MDB), era um “bacurau do pé roxo” como se gabava de afirmar. Em tudo ele mandava pintar de verde, a cor que identificava o “aluizismo” no Estado, contrastando com o “vermelho” de Dinarte Mariz, da Arena.

Como prova de sua fidelidade, pintava tudo que podia, de verde: a casa, as roupas (calça, camisa, cinto, cueca, lenço), chapéu, bicicleta, até um carneirinho de estimação que fazia questão de passear puxado uma corda – vindo daí o apelido, Homem do Carneiro;.

Num domingo pela manhã o “homem do carneiro” levou uma criança para a pia batismal da Catedral de Santa Luzia. Ele e esposa, (os padrinhos).e a própria criança, toda paramentada de verde. Ao final da missa,  monsenhor Humberto convoca  a todos que se organizassem em fila para iniciar a celebração dos batismos programados.

E anunciou:

— Vou começar batizando logo esse “periquito verde” que não para de chorar…

 

Turbulência

Durante uma viagem aérea ao Rio de Janeiro houve uma turbulência violenta que chacoalhou a aeronave. Os passageiros, assustados, logo afivelaram os cintos, já temendo o pior. Um sujeito da poltrona ao lado do monsenhor Humberto se levantou e disse em voz alta em tom de brincadeira:

— Calma gente, o avião não vai cair! E se cair, vai todo mundo pro céu… Tem um padre aqui do meu lado que não para de rezar...

E monsenhor, contrito com o seu rosário nas mãos:

— Que história de céu coisa nenhuma, meu amigo. Venha sentar e deixe de palhaçada…

 

Celeiro de notícias

Com ar sonolento, cara de ressaca, com seu tradicional cabelo encaracolado, um olho mais fechado que o outro entrou na redação da Rádio Rural, Fernando Dória, sergipano. Sentou,  ficou olhando para o teclado da máquina de escrever, pensativo.

    Estranhando o desânimo do colega, arrisquei:

    — E aí, Dória alguma novidade na área?

    — Sei não, César, vou consultar Emery, mas, antes vou dar uns telefonemas, fazer um rodízio pelas repartições. Tá um paradeiro danado… Você já notou que em Mossoró não está acontecendo quase nada ultimamente? Até das ocorrências a mais grave é prisão por embriaguez. Tempos atrás, pelo menos, a gente tinha a guerra do Vietnam. Depois a guerra do Camboja...

E recordava saudoso:

    — Acabou! Elas eram minha maior fonte de notícias. Quando faltava assunto ou notícia eu criava, inventava combates, derrubava helicóptero, caça, bombardeio... Fechava uma página do jornal falado bem ligeirinho. — E concluiu:      

  Pelos meus cálculos, pela quantidade de avião que derrubei e soldados americanos que abati  o que restou dava  pra voltar de canoa…

(em junho de2020  consegui intermédio do Sindicato dos Radialistas de Sergipe-  o telefone de Fernandes Dória. Mora em Aracaju, conversamos e rimos bastante recordando os  bons tempos da Rural em Mossoró; Prometi visitá-lo tão logo a Covid me liberasse, para visitar familiares na Bahia

 

Poxto ou Posto?

Essa teria ocorrido com o inesquecível  Manoel Alves, “seu Mané da Rural”, no auge do seu famoso programa “A hora da coalhada”. Uma mulher ditava um aviso para divulgar no seu programa. Tratava-se de documentos perdidos e “a pessoa que os encontrasse seria gratificada deveria entregar na portaria da rádio ou no posto de táxi ao lado da Matriz de Santa Luzia com o motorista fulano de tal”.

    Quando a mulher saiu, alguém que estava por perto notou que Manoel havia escrito posto com x (poxto).

    Observou:

    — Olha seu Mané, você se distraiu e escreveu posto com “x”…

   E Manoel, com o seu tique tradicional: balançando uma perna, mordendo a ponta da língua de lado e coçando a cabeça, explicou:

    — Nada disso, você não entendeu… Ela estava falando de poxto de táxi e não de posto de gasolina”. Certo?

 

Concriz e o padre

A Campanha da Fraternidade que a Igreja Católica promove anualmente focaliza um determinado tema central. Na década de 70 (1978 ou 1979?) um dos eixos temáticos foi o folclore e as tradições populares. O lema “Preserve o que é de todos” foi vivido intensamente nos programas da Rural em Mossoró, durante todo o ano recomendado pelo Mons. Américo Simonetti.

   Afinal, uma rádio católica – dizia - era e é um instrumento de ação pastoral em toda sua plenitude. Durante o concurso anual de calouros A Mais Bela Voz, a equipe da emissora percorria várias cidades da região realizando prévias da competição.

    O final do concurso ocorria em dezembro, durante os festejos da Padroeira Santa Luzia. A direção da emissora acolheu a feliz sugestão do poeta Crispiano Neto e professor Aécio Cândido ligados ao MEB - Movimento de Educação de Base, incluindo apresentações de uma dupla de “emboladores de Coco”. Muito apreciada nas feiras livres do interior. As apresentações antecediam à abertura do concurso dos cantores. A Campanha da Fraternidade – quebrava preconceitos e impunha a valorização das nossas tradições, com a presença dos emboladores “Concriz e João Preá” *

    Foi necessária essa exposição para chegarmos ao foco central do texto.

Em Caraúbas, o pároco padre holandês Lourenço Slegers, recebeu a equipe  na Casa Paroquial. Na mesa uma generosa merenda os aguardava. Na saída para cuidar dos preparativos da festa, o sorridente Concriz com a humildade de fazer inveja a frade trapista, com sua tradicional camisa xadrez e chapeuzinho de brejeiro de aba curta, volta-se para agradecer ao padre Lourenço.

  — Muito obrigado, padre. Espero que fique destacando em Caraúbas ainda por muito e muitos anos..

   Seu parceiro João Preá não perdoou. Quando se afastou do padre, puxou Concriz pelo braço e disse:

   — Condenado, tu qué me mata de vergonha?! Quem “destaca” é delegado ou soldado da polícia!

(*) Soube recentemente que Concriz ainda vive em Mossoró com a família, em eterna luta pela sobrevivência. Grande coração sem as maldades do mudo.

Quanto a João Preá, por sua vez abandonou a embolada e enveredou pela cantoria de viola e em pouco tempo, ganhou projeção pelo talento que possui. É um dos mais renomados e respeitados repentistas. Mora em Caruaru e há alguns anos, nos encontramos nos estúdios da Rádio Liberdade, onde me presenteou com vários CDs que guardo com o maior carinho.

   Faço reverência a um velho amigo, eterno batalhador e defensor da cultura popular, o irrequieto Crispiano Neto, que acolheu e abrigou tantos irmãos seus da poesia, naquela que a me referia como a “Santa Sé do Repente”, a Casa do Cantador de Mossoró.

 

 

Por que Praça do Codó?

 “Emprestam à praça Bento Praxedes, no centro da cidade, o depreciativo de “Praça do Codó” (o mesmo que, praça do azar). O que acontecera para que o local tão historicamente marcante recebesse o apelido? (ali por um curto período em 1933, funcionou a sede municipal num vistoso prédio chamado de Palácio Presidencial ou o “Catete”) e, oficialmente batizado com o nome de um ilustre homem público, jornalista, chefe político e orador brilhante, que foi o cel. Bento Praxedes Fernandes Pimenta.”

 -  “Na noite de 18 de agosto de 1950 estava programado um comício da UDN (União Democrática Nacional) em defesa da campanha presidencial do brigadeiro Eduardo Gomes e do seu vice Odilon Braga. Além de o senador José Ferreira de Souza, deputado José Augusto Bezerra de Medeiros, Manuel Varela de Albuquerque e Duarte Filho, estes candidatos ao governo do Estado. Manuel Varela era apoiado pelo primo, governador José Varela.

Para o importante evento foi montado um grande palanque, armado às pressas. Nas primeiras horas da noite já era grande a multidão que se aglomerava no local. E o pior, muita gente se acotovelava em cima do palanque além dos candidatos, que, já iniciavam a falação.

De repente, o imprevisto. O palanque construído por Francisco Sales (Sales de Avelino), veio abaixo, jogando no chão todos os ocupantes, sem distinção. Uma correria dos diabos, pânico geral, algumas senhoras agarradas no que sobrou das laterais do palanque em posições pouco recomendáveis.

Francisco Sales, o construtor do palanque desapareceu para não ser massacrado.

Mesmo assim, já refeitos do susto, - apenas alguns arranhões em alguns - e serenados os ânimos, foi realizado o comício, com discursos dos principais oradores, tendo o brigadeiro Eduardo Gomes, encerrado o evento advogando a construção do porto de Areia Branca, uma rodovia para o oeste até a divisa com o Ceará, obra importante para a expansão da economia da região.

“Mesmo não sendo coisa de uma primeira segunda-feira de agosto, se bem que tenha ocorrido dentro do azarento mês” - diz Lauro.

Dias depois vieram as eleições e quase todos os candidatos que caíram do palanque foram derrotados nas urnas.

Eduardo Gomes e Odilon Braga perderam para Getúlio e Café Filho; Manuel Varela e Duarte Filho perderam para Dix Sept e Sílvio. José Augusto não conseguiu ser reeleito para a Câmara Federal (em Mossoró não obteve um voto sequer).

Muitos deputados estaduais udenistas foram derrotados. Também vereadores. Foi mesmo um “codó” prenunciado naquela noite de agosto com o Brigadeiro. Desde então, veio a alcunha de Praça do Codó, à Praça Bento Praxedes, há 70 anos. Quanto à Praça do Catete esta pertence à História.


Manuel Varela roubou o Estado

Ainda sobre a campanha eleitoral de 1949, a chapa da situação (Manuel Varela e Duarte Filho) realizava mais um comício em Mossoró. Presentes também vários candidatos a deputado federal e estadual. Outro fato pitoresco aconteceu.

Foi dada a palavra ao popular Américo Julião (também conhecido como Américo Liberal), que defendia o candidato negando que a campanha governamental vinha sendo feita com o dinheiro do Estado, como diziam os opositores.

— Eles estão dizendo que Manuel Varela roubou o Estado. É mentira; quem pode ter roubado e José Varela.(*)

Foi o bastante para lhe arrebatarem de imediato o microfone, dando por encerrada sua palavra.

O mais grave: o próprio governador Jose Varela estava naquele momento no palanque.

(*) Uma tremenda injustiça, pois o macauense José Varela - embora primo legítimo do então candidato Manuel Varela de Albuquerque - foi um dos mais sérios homens públicos que governou o RN. Posteriormente vou publicar  alguns episódios marcantes de sua vida que comprovam essa afirmação.


Quincas Bem

Na campanha eleitoral municipal de 1959, três candidatos disputavam a Prefeitura de Mossoró. Dentre eles, Joaquim Alexandrino Saraiva, pedreiro, conhecido também por “Quincas Bem”. Resolveu sair candidato sem nenhuma possibilidade de êxito. Mesmo assim promoveu vários pequenos comícios pelos bairros e zona rural.

Numa dessas comunidades, Alagoinhas, Quincas levou também a sua palavra.

Numa tarde de domingo, lá estava Quincas em cima de um caixote de madeira, falando para um pequeno grupo de pessoas, que, minutos depois foram se dispersando, desinteressadas, ficando apenas dois homens e uma mulher.

Quincas Bem não desanimou, e disse:

— Estou notando que o povo está saindo, mas, uma certeza eu tenho que esses três que ficaram vão sufragar o meu nome para prefeito de Mossoró.

Nisto, a mulher aparteou:

— Seu Quincas, eu tô só esperando que o senhor termine de falar qui é pra eu levar meu caixote.

O caixote era o que estava servindo de “palanque”.

 

Luzia Preta, a rainha do fuxico

Registra a história que lá pelos idos dos anos 50, Luzia Preta, lavava e passava roupa em várias residências de Mossoró. Era muito procurada pelas donas de casa devido ao esmero do seu trabalho. Nos fins de semana, fazia faxina em algumas casas suspeitas, e prostíbulos oficiais.

PhD em disse-me-disse, Luzia não perdia oportunidade em contar fofocas envolvendo casais e maridos de muitas madames. Quem quisesse saber dos podres de alguém, bastava ouvir Luzia. Ela sempre ela estava a postos.

A professora “Das Dores” ou Dorinha, da União Caixeral - desconfiada do marido, queria descobrir disfarçadamente algum deslize dele nas noites boêmias de Mossoró. Para isto, ninguém melhor do que Luzia para dar o recado.

Balançando-se na rede e olhando pras telhas, Dorinha escutava Luzia enquanto engomava as roupas e disparava sua “tesoura”:

— Sabe dona Dorinha, aquele velho, seu Noé da padaria? Outro dia ele tava lá com as negas do cabaré e ficou meio sem jeito quando me avistou. Agora quando me vê na rua é todo cheio de agrado pro meu lado. Na certa é pra eu não contar à mulher dele.

Ele diz assim:

— Luzia, pode vim pegar pão quando quiser. Não precisa pagar. Igualzim a seu Nelson da farmácia… Tá com um chamego com uma bichinha que eu conheço. Quando eu pego um remédio lá na farmácia dele, é sempre a mesma historia:

— Pode levar, Luzia. Não precisa pagar, não… Chiquinho da verdura é do mesmo jeito... São uns homens sem vergonha, enganando as muieres!

A professora Dorinha interrompeu o balanço da rede e deixou a discrição de lado:

— Luzia, e o traste daqui de casa? O que tu me conta dele?

— Tá doida dona Dorinha?! Ave Maria! Nem pense nisso!... Seu marido é um homem santo! Além disso, é muito bom pra mim, sempre está me ajuda com uns trocados quando me encontra…

 

Uma praia para MossorÓ

Candidato em todas as eleições, não importava, prefeito, governador, deputado, vereador, fosse para o que fosse lá estava a figura de Artur Capote (Pedro Artur da Silveira Martins). Era o conhecido “candidato avulso” (a lei não exigia a obrigatoriedade de filiação). No entanto, o candidato nessa condição deveria ser apresentado por um determinado número de eleitores. Então, Artur, saía pelas ruas com papel tinteiro e “caneta bico de pato” coletando assinaturas de “apoiadores” o que lhe permitiria registrar sua candidatura na Justiça Eleitoral.

Mas o que para Artur Capote era voto certo, as urnas sempre revelavam o contrário.

Em plena campanha eleitoral para sucedê-lo, o prefeito de Mossoró, Dr. Paulo Fernandes, recebeu convite de Artur Capote, para prestigiar um comício no ainda pouco habitado bairro dos Paredões. Ao chegar, lá estava Artur num palanque improvisado expondo a interminável relação de obras que executaria após eleito: banheiro público em todas as ruas do centro e nos bairros; cada praça teria um poço artesiano para distribuição de água gratuitamente acabando de uma vez por todas com a secular falta d’água na cidade;

Tinha mais: colocaria cinemas ao ar livre em todas as praças; medicamentos seriam doados durante o seu governo, e, revelava o mais importante projeto: os mossoroenses não precisariam mais ir tomar banho de praia em Tibau que ficava distante. Ele, Artur, traria o mar até vasta área da cidade, abrindo um canal no rio Mossoró, criando uma praia artificial.

A promessa era motivo de chacota dos adversários. Aconselhado, Artur não falou mais no projeto da “praia”. Era algo impensável. Mas, o assunto já havia ganhado as ruas e era tema de discussões em todas as esquinas.

Conta-se que numa barbearia, um freguês explicava aos presentes que isso não era possível, e passou a explicar sobre a lei de gravidade o principal obstáculo.

Contrariado, o barbeiro questionou:

— E que lei é essa que não pode ser mudada? Ela pode ser federal, estadual, municipal, seja lá o que for. Eu só conheço uma lei que não pode ser alterada, amigos, é a Lei Divina.

 

Em tempo: apesar de nunca lograr êxito em suas candidaturas, fosse a prefeito, deputado, ou governador, Artur Capote teve o mérito de ajudar a política potiguar, na tumultuada campanha de 1935, com a ascensão de Rafael Fernandes Gurgel, ao governo do Estado, após uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral, baseado nos argumentos inclusos no processo pelo candidato avulso.

               Mas aí é outra história e fica para depois.

 

Semana Santa

Esta foi testemunha ocular o próprio Lauro da Escóssia. Estava ele e o irmão, Escossinha, com o padre Mota, falando sobre a Semana Santa. Era o final da liturgia do sábado de Aleluia que, naquele dia, contava com a presença do bispo Dom João Batista Portocarrero Costa, que ia oficiar a benção do fogo e da água

Na matriz de Mossoró.

— Padre Mota, é hoje que vão benzer a água e o fogo? É uma cerimônia tradicional da Igreja, não?

É verdade; Vai ser daqui a pouco, a cerimônia. É muito bonita. Mas, eu já acho isto muito choco!…

 

Sanitário da Prefeitura

Na segunda metade dos anos  30 a sede da Prefeitura de Mossoró  funcionou num antigo prédio com dois pavimentos (um prédio de primeiro andar, ou, como se dizia naquele remotos tempos “um prédio assombradado”, que pertencera aos herdeiros de Hemetério Leite, na rua Almeida Castro.  Foram feitos alguns melhoramentos nas dependências para melhor acomodar os vários departamentos da administração municipal. Inclusive, um novo sanitário já que só existia um, no térreo. Os funcionários evitariam descer e subir as escadas. Passam-se os dias e nada de ninguém usar o novo sanitário.

Por que todo mundo fica nesse sob e desce para usar o sanitário do térreo tendo um novo aqui em cima? -  questionava o padre prefeito.

Até que alguém arriscou: - Padre Mota o sanitário que o senhor fez, está pronto e ninguém está usando ...Não vai haver inauguração?

O fato é que passados alguns dias o padre prefeito se viu necessitado e recorreu ao sanitário; passando por entre os servidores cumprimentando uns e outros, entrou no novo sanitário e voltou minutos depois.

- Pronto pessoal, dei uma tremenda mijada  e considerem inaugurado o sanitário.


Palavrão

Certa manhã no ano de 1937, quando a administração municipal do padre Mota estava em expansão com novas praças, ruas calçadas, novas avenidas e outros melhoramentos urbanísticos que iam aos poucos deixando a cidade mais bonita e atrativa, eis que Mossoró foi sacudida com umas frases pintadas na parede da barragem do rio Mossoró abaixo de um desenho frontal do corpo feminino, (na chamada parte íntima). O autor da façanha escolheu um local que as pessoas que transitavam pela calçada do paredão para se dirigir ao centro da cidade; Não tinham como evitar o olhar nem deixar de ler. Nas primeiras horas da manhã já era notícia espalhada nos quatro cantos da cidade e as senhoras que vinham do outro lado do rio, se escandalizavam e se benziam ao avistar a indecência. Umas diziam: - E quando padre Mota souber disso o que não vai dizer?

O fato é que alguém fez chegar a notícia aos ouvidos do padre e contar tudo.

No dia seguinte saiu com sua bengalinha à mão foi até a barragem ver o que estava escrita em letras de forma

Viu e leu pausadamente: “A bu... de Branca é boa...”

Disse consigo mesmo: Que horror! Que miséria! Ah se eu pego esse sujeito..

De regresso a prefeitura, chama Bodoca seu secretário e chefe da fiscalização além de seu confidente, para resolver o que toda a cidade já tomara conhecimento.

- Bodoca, vai a barragem e dá um jeito de raspar a b....de Branca.

(As funcionárias que estavam por perto disfarçaram que não tinham ouvido).


Conferencista versátil

Rigoroso na aplicação dos recursos públicos o prefeito Padre Mota não admitia gastos supérfluos, desnecessários. Recebeu certa feita um pedido por escrito do interventor federal dr. Rafael Fernandes, recomendando um conferencista do Rio de Janeiro que incluíra Mossoró, no rol das cidades importantes do nordeste para proferir uma de suas conferencias. Até então, apenas nas capitais gozaram desse privilégio. Ao receber a carta do tal jornalista conferencista, o padre Mota explicou das dificuldades financeiras do erário e perguntou o valor da contribuição.

300 cruzeiros, respondeu.

O padre recusou, contrapondo cem cruzeiros. E concluiu- “se não quiser, estamos conversados”.

Dia seguinte o conferencista  voltou à prefeitura, no propósito de receber o que lhe havia sido oferecido.

O prefeito mandou pagar, desinteressado até em saber qual o tema da tal conferência. Enquanto aguardava o documento (recibo) passou a esnobar o seu talento.. Era o “tal” em qualquer assunto. Já na saída, com o dinheiro no bolso, desejava que o padre indicasse o tema.

Já impaciente para se ver livre daquele sujeito, e, dada a insistência para a escolha do assunto da palestra, foi dizendo:

- Já que o senhor insiste e é tão versátil, sugiro que fale sobre um tema muito interessante e atual a Psicologia da bufa.

 

Tire o “i” e pode entrar

Essa eu nunca esqueci. O folclórico Oziel Santiago, que eu insistia em chamar de “moreno” e me corrigia na hora: “moreno não, negro, negro até a alma” dizia. Espirituoso, sempre suando, irreverente e brincalhão, tinha na ponta da língua uma resposta engraçada para tudo, herança genética da veia poética do Vale do Assú, talvez. Foi por um tempo meu colega de turma, no curso de História no Campus Central da Universidade Regional  (atual UERN), em meados dos anos 70. Certa noite, assistíamos com o mais vivo interesse uma aula de Introdução à Sociologia, do professor padre Sátiro Dantas, (um privilégio).

Nesse momento, uma aluna chega atrasada e aparece na porta da sala:

— Boa noite professor, dá “licência?” E Oziel, sem levantar a vista do caderno:

- Tire o “i” e pode entrar.

 

Câmara Cascudo

Da língua ferina de Oziel Santiago ninguém escapava. Estava na livraria Independência, de Gonzaga Chimbinho em Mossoró, folheando alguns livros à venda. Chegou Oziel e aproveitei para mostrar o livro de Câmara Cascudo que eu acabara de adquirir. “Nomes da terra: história, geografia e toponímia do Rio Grande do Norte.:

- Tá jogando seu dinheiro fora. Esse é o maior mentiroso do Rio Grande do Norte em todos os tempos.

Deu as costas e foi saindo. O professor Antonio Chimbinho, (irmão de Gonzaga) que estava próximo disparou em voz baixa:

- Senhor perdoai-o por sua santa ignorância!


Lourival e sua equipe

Um taxista, em Recife, contou um episódio vivido por ele na sua cidade natal, Caruaru.

— Tinha uns 17 anos, morava com a mãe e sonhava em ser cobrador de ônibus só para viver viajando de cidade em cidade. E depois, quem sabe? Poderia até ser motorista quando ficasse de maior idade.

Um dia, criou coragem e foi atrás da tão sonhada oportunidade. No escritório da tradicional empresa de ônibus Princesa do Agreste, - ainda hoje em atividade - foi informado que o proprietário, Lourival José Batista estava na garagem conversando com um grupo de mecânicos e motoristas da empresa.

Vendo o ambiente descontraído e todos à vontade, arriscou:

— Seu Lourival, posso falar com o senhor?

— Diga meu filho, o que deseja?

— Gostaria de trabalhar pro senhor. Sou uma pessoa pobre, minha mãe é viúva e preciso trabalhar para ajudá-la. Sei ler e escrever, não bebo, não fumo, não jogo, graças a Deus não tenho vício nenhum. Posso garantir ao senhor que sou uma pessoa honesta. Nunca dei desgosto a minha mãe.

Então não vai dar certo para trabalhar aqui não — disse “seu” Lourival Batista. — E, apontando para o seu pessoal, completou: — Aqui meu filho, eu tô igual a Jesus Cristo, tem ladrão de um lado e do outro... Não tem um aqui que não me roube!


Reunião da Revolução

E por falar em Caruaru, lembrei-me de um relato que me foi passado pelo ex-prefeito e ex-deputado pernambucano, de Belo Jardim, Francisco Cintra Galvão, “Quincas Galvão”, há mais de 40 anos.

Após o golpe militar de 1964, aconteceu uma reunião com os prefeitos da região agreste de Pernambuco e o Comando do IV Exército. Os prefeitos estavam preocupados com o clima de terror e com as prisões que aconteciam. Ate o governador Miguel Arraes, estava preso levado ao presídio da ilha de Fernando de Noronha.

Aberto o encontro, os prefeitos tensos, foram se identificando e dizendo o nome do município que representavam;

Em dado momento, um dos militares se levanta e pergunta em voz alta:

— Alguém aqui presente, fuma?

Um dos prefeitos levantou-se:

— Eu fumo, sim, senhor, mas, se o senhor determinar eu deixo de fumar já a partir de hoje.

O militar não se aguentou e todos caíram na risada.

— Não meu amigo, é que eu esqueci meu isqueiro e quero apenas acender um cigarro.

Foi o suficiente para quebrar o gelo.

 

Caim e Abel

Num comício em homenagem a Zé Agripino, em Caicó, em frente ao Hotel Vila do Príncipe , (atualmente sede da Prefeitura), o popular Zé de Dari, ao ver juntos no mesmo palanque os contrários: Agripino e Geraldo Melo, Lavoisier e Wilma, Nelter e Cripriano, Vivaldo e Vidalvo, exclamou: 

- “ Isso aí virou o fim do mundo. Juntaram de novo Abel e Caim”.

 

 

Fazer “sabão”

Contava o saudoso amigo, Dinarte Mota, (que Deus levou antes do tempo combinado), um comentário curioso, que ouviu de uma moradora do bairro Paraíba, em Caicó. Ele, presidente do Conselho Comunitário, num dos inúmeros encontros dos moradores com a também - já falecida -  ex-governadora Wilma de Faria, na época, secretária de Habitação e Ação Social do Estado. Na ocasião, Wilma, exortava as moradoras da necessidade de desenvolver atividades produtivas para melhorar a renda familiar. Os recursos estavam garantidos. Passou a sugerir às mulheres algumas ações como, por exemplo: a produção de bordados, roupas e enxovais, fazer doces, fazer picolés caseiros, fazer desinfetante e sabão...”  Nesse momento, a mulher comentou com uma colega ao lado:

“Vige comadre, nessa aí tô fora... tenho mais idade prá isso não!!” 

 

Melhor que o Paraíso

Jarbas Passarinho, que foi Ministro da Previdência, da

 Educação e da Justiça era amigo do peito do ex-senador Dinarte Mariz. Corrigindo uma frase atribuída erroneamente ao senador Agenor Maria, (RN).  “Melhor que o Senado só o céu”. Passarinho explicou que a frase foi dita pelo senador Dinarte Mariz, assim: “ O Senado é melhor do que o céu, porque para alcança-lo, não é preciso morrer”.

 


Recado ao presidente    

O ex-senador Dinarte Mariz, - devido a suas posições radicais, - (foi o primeiro político potiguar a cair no desagrado do presidente general Castelo Branco, entre outros que eram vistos com reserva e desconfiança). Era o início do regime militar. Depois de ser informado, educadamente pelo colega senador baiano, Luís Viana Filho, ( Chefe da Casa Civil da Presidência), - na frente de várias pessoas - da impossibilidade de serem atendidas suas reinvindicações em favor do RN. O velho senador contrariado, enviou um direto:  Viana, o Rio Grande do Norte agradece, mas, por favor transmita ao presidente que “dor de barriga não dá só uma vez não!”.

 

“Mané de Vazante” ?

Nos primeiros dias de sua segunda administração à frente da Prefeitura de Caicó, o ex-prefeito Manoel Torres, me chama no Gabinete para relatar sua contrariedade em  ter que exonerar algumas pessoas, - apontadas como adversárias – e que haviam sido contratados  sem concurso público pelo ex-prefeito Vidalvo Costa.

 “Veja, César, como é difícil governar: Fulano  vem aqui, (não disse quem), aponta quem deve ser exonerado, depois  vai às escondidas,  falar com a pessoa,  em seguida, volta e me pede para revogar o ato de  em menos de uma semana.”

E sentenciou: “Ou seja, ele aparece como herói e eu fico com cara de “Mané da Vazante”, eu prefiro continuar como “Mané Panela” .

(o que danado que dizer  “Mané da Vazante” no linguajar seridoense?  Nunca descobri do que se trata.)

 


adversários? Nem sempre...

Precavido, rigoroso e atento como um gato maracajá, quando o assunto era aplicação de recursos públicos, Manoel Torres de Araújo, ex-prefeito de Caicó conseguiu realizar algumas obras estruturais importantes. Na segunda gestão, dois parlamentares potiguares – embora seus opositores – merecem por justiça, ser lembrados: senador Dario Pereira, de Parelhas, que substituiu o titular José Agripino e o dep. Federal Beto Rosado, de Mossoró. Ambos destinaram recursos para Caicó via Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE para construção de uma galeria pluvial no riacho das Salinas, bairro Paraíba. Com a contrapartida da prefeitura, além do inicialmente previsto, permitiu que não apenas uma, mas, duas galerias fossem construídas na mesma área, beneficiando ainda mais o acesso dos moradores. Em resumo: com o mesmo valor as duas obras foram concluídas. (em contra ponto ao que se vê de obras inacabadas pelo Brasil afora).

 

Quando ao deputado federal Beto Rosado, graças a liberação de emenda o prefeito desapropriou uma área de terra e construiu cerca de vinte moradias para famílias carentes. O local escolhido, próximo ao açude Recreio no lado noroeste, da cidade. Foi instalada rede elétrica, iluminação pública, via de acesso, entre outros benfeitorias. Suficiente para ampliação da área urbana A gleba, pertencia a “Neto das Carrocerias”, que iniciou um loteamento e tempos depois chamado de Conjunto Recreio.

Confessou certa vez:

“O que mais me chama a atenção é que. da bancada federal os parlamentares adversários  são os que mais me ajudam na Prefeitura.” – confessou certa vez.


Efeito roçadeira...

Certa feita, ainda no primeiro ano de governo senti certo uma certa frieza por parte de alguns vereadores do seu grupo pelo tratamento que vinha recebendo. Talvez por falta de tolerância e paciência enquanto se “arrumava a casa”. Indiretamente, e com muita cautela eu tentava lhe mostrar esse cenário.

“Sou muito grato aos nossos vereadores que têm me ajudado muito, reconheço o trabalho da nossa bancada – mas, não posso dizer isso na frente deles”.

- Por que não? Seria até bom um pouco de afeto e solidariedade “seu” Manoel...não custa nada demais né?.

- É alguns que podem até gostar de mais disso e querer vir “comer na frente feito roçadeira...”


O time adversário

Ainda sobre suas relações com a Câmara Municipal disse-me outro dia: - Todo treinador quer ter no seu time o jogador bom do time adversário...

Não entendi, a quem o sr se refere?

E ele:

- Tem dois vereadores da oposição que já nasceram com espírito público, pena que estejam do lado errado, não façam parte do meu time. Roberto e Chico (Roberto Germano e Francisco Gregório).

Arrisquei: É verdade, dois bons artilheiros.

- É...mas, pela minha experiência mais dia menos dia vão ser traídos. Pode escrever! -


Prefeitura rica

Viajávamos a Natal, no caminhão-caçamba, recém adquirido pela prefeitura. No volante, o motorista Zé Balbino, eu no meio e Manoel Torres no lado da porta. Um desconforto para uma viagem tão longa...O caminhão-caçamba tinha a viagem prevista para trazer certo material. E ele, o prefeito só uma audiência no Centro Administrativo. Como medida de economia, a Caravan do Gabinete ficara em Caicó.

Ao se aproximar de Currais Novos, o caminhão foi ultrapassado por um vistoso automóvel preto, reluzente com placa oficial.

- Que carrão bonito né Zé? - deve ser do governo do Estado – comentei.

- É o prefeito de Timbaúba quem vai aí..

Depois foi a vez de  “seu” Manoel .opinar:

- É meu povo, Prefeitura rica é outra coisa, cadê que eu posso?

Daí em diante o silêncio reinou no ambiente por algum momento. Cada um na sua. 

 

 
Sem Prestígio

JOÃO MAMONA  - o eterno candidato

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