quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

“Na vida a gente ama vinte vezes; uma por inexperiência e dezenove por castigo"

 Dos inúmeros nomes consorciados na música brasileira, dois não passam despercebidos. Antonio Maria e Haroldo Lobo. Ambos pernambucanos, ambos amantes da noite, ambos boêmios, ambos poetas. Sobre o primeiro:

Antônio Maria de Araújo Moraes (PE, 17.03.1921 - RJ, 15.10.1964) morreu aos 43 anos. Ingressou adolescente na Rádio Clube de Pernambuco como locutor e apresentador de programas musicais.

Antônio Maria viajou para o Rio de Janeiro em 1940, tendo ido trabalhar como locutor esportivo na Rádio Ipanema. Contudo, devido ao seu estilo peculiar de irradiar os jogos, logo acabou sendo dispensado do emprego. Improvisava sambas com Fernando Lobo e frequentava os bares cariocas. Como ele não conseguia um emprego no Rio, retornou ao Recife, indo trabalhar em jornais, produzir músicas para publicidade sendo, inclusive, locutor esportivo.











Em 1944, Antônio Maria se casou com Mariinha Gonçalves Ferreira, a irmã do seu amigo Hugo Peixa, e foi morar em Fortaleza. Nesta cidade, ele trabalhou, por quase um ano, na Rádio Clube do Ceará, graças aos esforços do seu amigo Fernando Lobo. No entanto, retornaria logo ao Rio de Janeiro, passando a exercer o cargo de diretor de produção da Rádio Tupi, além de publicar crônicas no periódico O Jornal.

Atuou também como jornalista no Diário Carioca, assinando a coluna A noite é grande; na Revista Manchete, com a coluna Pernoite, e nos jornais O Globo e Última Hora. Por trabalhar no horário noturno, muitos diziam que ele era um repórter das noites cariocas.

Por ser um indivíduo muito talentoso, Antônio Maria conseguiu ser admitido, como diretor de produção, na primeira televisão brasileira - a TV Tupi - no dia 20 de janeiro de 1951. Nessa televisão, ele exerceu inúmeras atividades: atuou na locução esportiva, nos jingles, nos roteiros dos espetáculos, no humorismo e na crônica.

As primeiras manifestações do compositor que estouraria em 1952. Em verdade, o ano de 1952 foi o ano bom de sua vida - por sinal  belamente biografada pelo jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, quando uma música sua, gravada por uma cantora inteiramente desconhecida, de voz grave e sem grande extensão vocal chamada Nora Ney, repercutiria em todo o país, lançando cantora e compositor. Era "Ninguém me ama", considerado até hoje um clássico da chamada música de fossa e de dor-de-cotovelo, protótipo do samba-canção.

Mas, "Ninguém me ama", de Antônio Maria, acrescenta outro nobre personagem à história da MPB - um personagem com descendência igualmente importante -, o amigo e conterrâneo com quem ele assinou a composição, poeta, compositor e jornalista Fernando Lobo (PE, 26.07.1915 - RJ, 22.12.1996), pai de Edu Lobo, faleceu com 81 anos. Em "Ninguém me ama", Maria e Fernando atingiram um dos pontos mais amargos e pungentes da poética musicada:

Vim pela noite tão longa de fracasso em fracasso / E hoje descrente de tudo me resta o cansaço / Cansaço da vida, cansaço de mim / Velhice chegando, e eu chegando ao fim."

Não é portanto à toa que tanto a canção quanto seus compositores se tornaram emblemáticos do estilo de sua época. Boêmio, homem da noite, amante das ruas e das madrugadas do Rio e de São Paulo, Antônio Maria como jornalista assinou as primeiras colunas individuais brasileiras que tratavam simultaneamente de todos os assuntos, sobretudo da noite e do bem comer. Maria, espírito crítico, um intelectual, produziria crônicas e poemas memoráveis nos quais a observação amargo-irônica do cotidiano era a constante fonte de inspiração:

- “Na vida a gente ama vinte vezes; uma por inexperiência e dezenove por castigo" ou "A única vantagem de morar sozinho é poder ir ao banheiro e deixar a porta aberta". Produtor dos primeiros programas de televisão e dos melhores shows humorísticos na antiga Rádio Mayrink Veiga, Maria criou músicas que marcariam a fundo a década de 1950, como "Manhã de Carnaval" (para o filme Orfeu Negro, 1959, com Luiz Bonfá), "Se eu morresse amanhã de manhã" e "Valsa de uma cidade", com Ismael Neto.

Transcreve-se, abaixo, uma das mais belas composições de Antônio Maria: o Frevo no. 1 do Recife. Esta música foi composta quando ele morava no Rio de Janeiro, com as lembranças saudosas do Recife de sua juventude, relembrando nomes lendários do carnaval pernambucano, como “Walfrido Cebola” “Colaço” entre outros.

Ô Ô saudade / Saudade tão grande / Saudade que eu sinto

Do Clube das Pás, do Vassouras / Passistas traçando tesouras

Das ruas repletas de lá/Batidas de bombos são maracatus retardados

Chegam da cidade cansados  / Com seus estandartes no ar.

Que adianta se o Recife está longe / E a saudade é tão grande

Que eu até me embaraço / Parece que eu vejo Walfrido Cebola no passo/ Haroldo, Mathias, Colaço/ Recife está dentro de mim.

 O parceiro e amigo Vinícius de Moraes, entre outras coisas, escreveria o seguinte no prefácio do livro O Jornal de Antônio Maria, cuja edição foi censurada e sustada pelos militares:

[...] Às vezes eu fico pensando. Não sei se você gostaria de estar vivo agora, meu Maria, depois de 1964. Tudo piorou muito, o Governo, o caráter, a música, perdeu-se aquela criatividade boa e gratuita da década de 50. Em resumo, amigo Maria, não se perdeu a música; perdeu-se a sua dignidade.



CONTINUA EM MEMÓRIA MUSICAL.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O PARABÉNS A VOCÊ ou PRÁ VOCÊ?

 “Ligando você à cultura, à música e à informação”

Pois é. De acordo com o depoimento prestado à jornalista Léa Magalhães, em 2014, pela neta de Bertha Celeste Homem de Mello, - (1902 -1999) -  Eliana Homem de Mello Prado, moradora em Jacareí, São Paulo, a avó se irritava constantemente pela forma errada comumente repetida pelas pessoas ao entoar os versos da mundialmente celebrada “Parabéns a Você”.

“ Parabéns prá você / nessa data querida / muitas felicidades...

Sobre os erros grifados ela acentuava que não era “pra você” e sim, “a você”;  nesta data e nunca “nessa” e, finalmente, o terceiro erro, repetia que “ a felicidade é uma só” – singular e não plural.


 










"Minha avó ficava louca da vida quando ouvia o cantar da letra errado, porque ela sempre foi muito vaidosa. Então, eu não me permito cantar do jeito errado. No trecho da música 'é pique' eu começo a cantar, mas antes eu não canto".

A música mais cantada em todo o mundo foi criada nos Estados Unidos. Em 1875, as irmãs Mildred e Patrícia Hill, professoras primárias no Kentucky, compuseram uma pequena quadra que serviria para ser cantada com os alunos antes do início das aulas.

Já era muito popular no início do século passado, quando uma editora de músicas, em 1924, selecionava músicas para celebrações diversas “Celebration Songs”, introduzindo a melodia das irmãs professoras para criar uma música exclsiva para festas de aniversários. Nascia a partir daí o “Happy Birthday To You”.

Composição de um verso apenas, em que havia repetição por quatro vezes. Na terceira repetição, era acrescentado o nome do (a) aniversariante. No lugar do “to you”. No entanto, a sua popularização somente viria em 1933, quando uma peça teatral na Broadway, utilizou a canção.

Conforme diz o texto de Léa Magalhães:

Concurso no Brasil
Em 1942, o cantor Almirante, pseudônimo de Henrique Fóreis Domingues, que apresentava um programa na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, resolveu promover um concurso para escolher uma letra em português da canção.

A música da compositora, que era farmacêutica e poetisa em Pindamonhangaba, também no Vale do Paraíba, foi escolhida entre cerca de cinco mil letras  por uma comissão julgadora formada pelos membros da Academia Brasileira de Letras. Dentre os avaliadores estava Cassiano Ricardo, poeta de São José dos Campos.

"Ela contava que soube do concurso e estava pensando em escrever a letra, aí um dia o rapaz que trabalhava perto do sítio disse que iria para a cidade e se ela queria alguma coisa. Daí ela escreveu o 'Parabéns' em cinco minutos e deu para ele colocar no Correio", relembra a neta. Bertha também tem poesias publicadas e já teve uma canção gravada pelo músico Rolando Boldrin. Ela morreu aos 97 anos e está sepultada em sua cidade natal.”

Direitos autorais

A canção original, composta em 1893 pelas irmãs Mildred Jane e Patty Smith Hill, já se encontra em domínio público, no entanto Berta permanece detentora dos direitos sobre a versão da letra. Lorice Homem de Melo, filha e única herdeira, recebe atualmente 16,66% dos valores arrecadados pela canção, que permanece como uma das mais tocadas no Brasil. Ao longo de 30 anos, este valor foi dividido com o produtor musical Mello Gambier, até que em 1978 o produtor musical Jorge de Mello Gambier firmou um contrato com Bertha por acrescentar uma nova estrofe. Em 2009, após um processo judicial, Berta voltar a receber o valor integral dos direitos autorais.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

 

Como funciona uma usina hidrelétrica e que aparelhos são usados para gerar energia?

Como funciona a escala Richter?

Como a grafite é colocada no lápis?

Roupas e cobertores aquecem nosso corpo?

Como funcionam os prismas, objetos transparentes que mudam de cor quando expostos à luminosidade?

As respostas estão na página CURIOSIDADES. (O blog agradece o envio de novas curiosidades e a colaboração)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

O IMORTAL JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA

 Quinto ocupante da Cadeira 38, eleito em 27 de outubro de 1966, na sucessão de Maurício de Medeiros e recebido pelo Acadêmico Alceu Amoroso Lima em 28 de junho de 1967. Recebeu o Acadêmico João Cabral de Melo Neto. 

José Américo de Almeida nasceu em Areia, Paraíba, a 10 de janeiro de 1887. Era filho de Inácio Augusto de Almeida e de Josefa Leopoldina Leal de Almeida. Faleceu na cidade de João Pessoa  a 10 de março de 1980.

Órfão de pai aos 9 anos, o menino foi entregue aos cuidados do tio Padre Odilon Benvindo. José Américo fez seus estudos no Seminário da capital do Estado e no Liceu Paraíbano. Em 1903 ingressou na Faculdade de Direito do Recife e após a formatura foi nomeado para o cargo de promotor público na comarca de Sousa. Em 1911 passou a ocupar as elevadas funções de Procurador Geral do Estado.

A publicação do romance "A bagaceira", em 1928, projetou-lhe o nome em todo o país, com o destaque dado à literatura regionalista que, ainda no século XIX, se concentrara, sobretudo, nas obras de Franklin Távora e de Domingos Olímpio

Em 1922 publicara José Américo as "Reflexões de uma cabra" a que se seguiu "A Paraíba e seus problemas"(1923) obra de grande conteúdo social.

Secretário do Interior e Justiça durante o governo de João Pessoa na Paraíba, teve de enfrentar os conflitos políticos na região de Princesa.

Com a vitória da Revolução de 1930 assumiu, de 1930 a 1934, o Ministério da Viação e Obras Públicas. Um desastre aéreo na cidade de Salvador, em 1932, deixou-o seriamente ferido.

Em 1934 Getúlio Vargas o nomeou para o cargo de Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, que não chegou a exercer. Eleito Senador em 1935,foi depois, designado Ministro do Tribunal de Contas da União.

Depois do êxito de "A bagaceira" publicou, ainda, os romances "O boqueirão" (1935)  e "Coiteiros.

Em 1937 foi apresentado como candidato dos partidos governistas à presidência da República, mas o golpe de Estado de 10 de novembro desse ano suprimiu a campanha eleitoral. O Congresso Nacional foi dissolvido e implantado, no país, o Estado Novo.

Em fevereiro de 1945, com uma entrevista ao matutino carioca "Correio da Manhã" José Américo contribuiu decisivamente para pôr fim à ditadura implantada por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937.

Nas eleições de 2 de dezembro de 1945 José Américo foi eleito Senador pelo seu Estado natal. Voltando a ocupar a pasta ministerial da Viação e Obras Públicas em 1951, cargo em que se conservou até o suicídio do Presidente Vargas em de 24 de agosto de 1954.

Entregou-se José Américo à tarefa de escrever as suas memórias e, em 1966, ingressou na Academia Brasileira de Letras, ocupando a vaga deixada pelo trágico falecimento do professor Maurício de Medeiros.

A União Brasileira de Escritores presta-lhe significativa homenagem - em 1977 - como "O Intelectual do Ano".

No ano anterior publicara o homenageado mais um livro de memórias, intitulado "Antes que me esqueça"*. Fonte Academia Brasileira de Letras.

(*) a frase ilustra  o subtítulo do nosso blog.

 


    










Pensamentos de José Américo:

A Verdade

“Há muitas formas de dizer a verdade... Talvez a mais persuasiva seja a que tem a aparência de mentira”. 

Felicidade coletiva

“Para alcançar o ideal de felicidade coletiva basta tornar o Brasil mais produtivo. Criar a prosperidade que não se tira da boca dos pobres, mas do trabalho racional”.

Paixão

“Se escapar alguma exaltação sentimental, é a tragédia da própria realidade. A paixão só é romântica quando é falsa”.

Língua

“A língua nacional tem rr e ss finais... Deve ser utilizada sem os plebeísmos que lhe afeiam a formação. Brasileirismo não é corruptela nem solecismo. A plebe fala errado; mas escrever é disciplinar e construir”.

Povo

“Já conquistei a convenção solene dos partidos. Só me faltava esta, ao ar livre, sem luxo, sem fogos de artifício, sem artifício nenhum. O povo que não vai às festas e vem aqui de roupa de trabalho não quer outro cenário. Fica satisfeito, debaixo do céu, revendo os quadros eternos e sempre novos da terra miraculosa e a cidade inquieta que sobe e desce, nos seus contrastes humanos. Tudo natural, tudo de graça, tudo dado por Deus para os que não podem ter fantasmagorias suntuosas”.


MUITA TOSSE

Secretário do Interior, no governo de João Pessoa, o areiense José Américo incumbiu o major Benício de recrutar homens valentes no interior do Estado, para reforçar a polícia. Estava se preparando para a Revolução que viria naquele mesmo ano de 1930.  O major, homem valente (anos antes, nos sertões, enfrentou o bandos de cangaceiros em várias escaramuças. Era respeitado pela coragem e destemor). “prefiro brigar com o cão, do que com aquela peste” – disse certa vez Lampião.

Ao retornar da missão disse a José Américo, da dificuldade que estava tendo para recrutar cabra valente impressionado com o alto índice de tuberculose que encontrou pelo interior.

   - Os homens são valentes, dispostos, mas há muita tuberculose. A maioria não serve. Não serve nem pra tocaia e emboscadas, dr. José Américo.

   - Por que?

   - Por causa da tosse.


OS TELÚRICOS PARAIBANOS

Alcides Carneiro, era orador  brilhante e reconhecido no Brasil inteiro. Algumas frases suas entraram para as lendas da retórica nacional.:

- “ Falo em Recife, cujas pedras são travesseiros de mártires e heróis”.. Ou inaugurando um hospital um hospital no interior

– “ Esta é uma casa que por infelicidade se procura e por felicidade se encontra”.

Estava fazendo um comício com José Américo e começa a chover.

- “Eu pensava que estava falando sob os aplausos dos homens. Mas vejo que falo também sob as bênçãos de Deus”.

No encerramento, foi a vez de José Américo falar. A chuva tinha parado e uma lua branca pairava no céu. José Américo não resistiu:

 - “ Há os que falam sob os aplausos dos homens e as bênçãos de Deus. Eu falo iluminado pelo castiçal dos pobres, a doce lua, luz do amor”.

 

Num comício em Cajazeiras, no alto sertão, limite fronteiriço com o Ceará. Começou o discurso quando alguém gritou lá de baixo:

 - Fale mais alto dr. José Américo (naquela época não existia alto falante nos comícios).

 - “Não posso. Não quero que os cearenses me ouçam pedindo voto aos paraibanos.


ENQUADRANDO OS MAIAS

Foi eleito governador, ocasião em que o deputado João Agripino Maia lhe fazia cerrada oposição na Câmara Federal. Mandou chamar o tenente Lira (que depois seria eleito deputado estadual):

- Tenente tenho uma missão especial e acabo de nomeá-lo comandante de uma volante. Sua missão é enquadrar com o rigor da lei os Maias de Catolé do Rocha. Sabe o que é enquadrar na lei?

- Sei sim, governador.

- Sabe não. Enquadrar na lei é exigir carteira de identidade de todos os Maias que entrarem na cidade. Quem não tiver vai preso. Enquadrar na lei é desarmar todos os Maias, até de “quicé” (faquinha de cortar fumo para fazer cigarro de palha). Enquadrar na lei é destelhar as casas dos Maias para descobrir criminosos homiziados lá dentro.

Enquadrar na lei é exigir que todos os feirantes ligados aos Maias paguem impostos no Estado e na Prefeitura. Tenente, agora já sabe o que é enquadrar na lei?

- Sei sim, governador.

- Vá tenente e cumpra a sua missão legal.

Resumo: ( uma semana depois, João Agripino fazia as pazes com José Américo).

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

COVID-19: - “DEUS INFORMOU-ME QUE SÓ VAI DEIXAR ENTRAR NOS CÉUS QUEM TOMAR AS DUAS DOSES DA VACINA” - PAPA FRANCISCO

 Compadre Roldão me pergunta pelo “zap”

“ É verdade que o Papa anunciou que é preciso tomar a vacina contra a Covid-19 para entrar no céu? 

Devolvi, brincando:

  - “Prá mim tanto faz ir o céu ou pro inferno! Depois que Fernando, o “beira-mar”, se converteu em pastor evangélico no presídio em Mossoró,  afirmar que está salvo e já garantiu cadeira cativa no Paraíso, acho que a melhor opção é ir pro outro lado”.

Mas, quanto à afirmação do Papa argentino (aquele que segundo os “hermanos”, gostava de almoçar com a turma da guerrilha e à noite jantava com o general Videla, na Casa Rosada), não deve ser levada a sério. Mentira pura!

Mesmo porque Deus só deixa entrar no céu quem se santificar, orar e abandonar o pecado, as mentiras e tudo mais...”

Por aí, compadre, já se vê que são poucos os eleitos.

 Essa notícia, ou melhor, “fake news”  correu o mundo dia 30 de novembro último, publicado num artigo  do site satírico, “The Babylon Beee”.

 “ Papa Francisco diz que vacina da Covid-19 vai ser necessária para entrar no céu”. Aliás, a notícia partilhada na publicação em análise – e que é utilizada com o objetivo de provar a veracidade da acusação – é uma tradução da página onde está o texto original.

De acordo com esta história, Francisco anunciou que “Deus o informou de um novo requisito para entrar no céu”.

O que disse o Papa:

No dia 19 de setembro último  numa audiência com os membros da fundação italiana Banco Farmacêutico, Francisco apenas alertou para a urgência de se encontrar uma vacina que combatesse as pandemia de Covid-19 e defendeu a necessidade da mesma ser acessível a todas as populações; “Repito – disse ele na ocasião – “que seria triste se, ao fornecer a vacina, se desse prioridade aos mais ricos, ou se esta vacina se tornasse propriedade desta ou daquela nação, e se não fosse para todos. Deverá ser universal para todos”. Foi o que declarou o chefe da Igreja Católica, citado pelo portal de notícias da Santa Sé, “Vaticano News”.


PARA NÃO SAIR DO TEMA COVID E SUAS VARIANTES  FIQUE SABENDO QUE:

A criação da Organização Mundial de Saúde – OMS, tem muito a ver com um brasileiro. Seu nome Geraldo de Paula Souza, farmacêutico e médico sanitarista de renome mundial. Outro colega seu, o diplomata chinês Szeming Sze, foram os primeiros a defender a criação de um organismo internacional uma agência mundial que tratasse exclusivamente da questão da saúde no mundo. Isso ocorreu logo após a II Guerra Mundial, enquanto os diplomatas discutiam a criação da ONU em São Francisco na Califórnia.

A ideia prosperou e em 1948, foi constituída a OMS no dia 7 de abril daquele ano e na mesma data oficializado como o DIA MUNDIAL DA SAÚDE.

 


 









Geraldo de Paula Souza (o primeiro sentado da esquerda para a direita) na assinatura da constituição da Organização Mundial da Saúde, no Hotel Henry Hudson em Nova York (EUA), no dia 22 de julho de 1946 - Fonte: Centro de Memória da Faculdade de Saúde Pública - USP/Divulgação

Prevenir em vez de tratar

Uma das primeiras realizações de Paula Souza foi a criação de um centro de saúde. “A proposta era ter um espaço para atuar no acompanhamento e na prevenção de doenças na comunidade, e não apenas um local para visitar quando já se está com algum sintoma”, explica a  historiadora Mariana Dolci, doutora em ciências da USP. Em sua tese, ela pesquisou o trabalho e a obra de Geraldo de Paula Souza e contou histórias fascinantes que merecem ser conhecidas de todos os brasileiros. Os Centros de Saúde depois se espalharam por todo o território brasileiro. O píoneiro Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza, segue funcionando atualmente, mais de nove décadas, desde a sua criação.

Outro ponto da biografia do médico que merece destaque foi o projeto de adicionar cloro na água que chega às nossas casas. A melhora na rede de abastecimento à época permitiu reduzir incidência de doenças infecciosas, como a febre tifóide, na cidade de São Paulo.

“Paula Souza também foi pioneiro no que chamamos de educação sanitária: ensinar nas escolas as técnicas básicas de higiene, como a lavagem das mãos. E o hábito de tomar banho. As crianças ao chegar em casa, levavam as informações para suas casas e todos aprendiam. 

A Organização Mundial de Saúde – OMS teve um diretor brasileiro, o dr. Marcolino Gomes Candau, de 1953 até o ano de 1973 – 20 anos à frente da Organização Mundial da Saúde. Foi ele que construiu a sede do órgão em Genebra, na Suiça e foi o responsável pelo programa mundial de combate a varíola e as atualizações nas regras sanitárias internacionais, assinada pelos países membros.


Lupe Hernandez a inventora do álcool em gel

O blog “Túnel do tempo” do jornalista André Biernath, publicou com exclusividade, que o nome da enfermeira americana de origem latina, Lupe Hernandez, considerada a criadora do álcool em gel. Ela será homenageada pela Turma da Mônica (Fundação Maurício de Souza) no Projeto “Donas da Rua”, que ressalta a vida e o trabalho de importantes personagens femininas da História.






















Pouco se sabe sobre a vida da inventora desse produto que se espalhou pelo mundo e nesses tempos de pandemia é um grande aliado e produto indispensável. Sabe-se que ela era estudante universitária na cidade de Bakersfield, na Califórnia. Teve a ideia revolucionária de criar esse produto no intuito garantir a higienização das mãos dos profissionais de saúde na falta de água e sabão.    


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

BIDEN E KAMALA ESCOLHIDOS AS PERSONALIDES DO ANO PELA TIME

 

       Foto: Reprodução / Twitter /Time

Na capa da revista, Biden e Harris aparecem com a manchete:

"Mudando a história dos Estados Unidos". "Juntos, eles ofereceram restauração e renovação em uma única chapa. E os Estados Unidos compraram o que estavam vendendo", afirma a publicação.

 

O presidente eleito dos de Estados Unidos, Joe Biden, e sua vice-presidente Kamala Harris foram designados "Personalidades do Ano" pela revista "Time". O democrata de 78 anos, que tomará posse como 46º presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro, e Harris, de 56 anos e primeira mulher eleita como vice-presidente, foram selecionados entre outros três finalistas: o presidente Donald Trump, o movimento contra as desigualdades raciais, além do doutor Anthony Fauci e os profissionais da saúde mais expostos a covid-19.


É acontecimento tradicional nos meios jornalísticos no mundo inteiro que, com a chegada de dezembro, sejam feitas retrospectivas, matérias ou programas que lembram os fatos importantes transcorridos durante o ano. Um dos veículos que começou essa tradição foi a revista Time

Há 93 anos , exatamente em 1927 a revista passou a publicar uma edição que dá destaque a quem os editores consideram ter sido a pessoa mais importante no ano que transcorreu. Mas essa tradição começou com um verdadeiro embaraço. Em maio daquele ano, o aviador Charles Lindbergh cruzou o Atlântico no primeiro voo sem escalas entre Nova York e Paris.

Com o feito, Lindbergh se tornou uma celebridade, mas a Time deixou de fazer uma matéria de capa sobre ele, perdendo espaço para os concorrentes. Para remediar, no fim do ano, os editores decidiram fazer uma matéria principal chamando Lindbergh de “O Homem do Ano”.

O termo “Pessoa do Ano” passou a ser adotado apenas em 1999. Até então, usava-se “Homem” ou “Mulher do Ano”, conforme o sexo do escolhido. Mas nem sempre o título foi dado para indivíduos. Pares de pessoas, como casais e oponentes políticos, grupos (como soldados, cientistas, pacificadores e outros) e até mesmo o computador (“Máquina do Ano”, em 1982) e a “Terra Ameaçada (“Planeta do Ano”, em 1988) já foram selecionados para a edição especial.

A designação como Pessoa do Ano é geralmente considerada uma honra, devido à escolhas anteriores de indivíduos admiráveis.

No entanto, a Time também já selecionou várias figuras controversas pelo impacto que causaram no mundo, como Adolf Hitler (1938), sugerindo inclusive, sua indicação para o Prêmio Nobel da Paz. (no ano seguinte  Hitler invadiu a Polônia começando a Segundo Guerra Mundial). Joseph Stalin (1939 e 1942) e o Aiatolá Khomeini (1979). CONTINUA EM PERISCÓPIO.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O MUNDO DE ZINCO DE ANTONIO NÁSSARA

 Ele foi sem sombra de dúvida um grande nome nas artes do Brasil. Compositor de grande talento desenhista e caricaturista dos mais renomados em toda a história da república brasileira. Ele criou-se em Vila Isabel no Rio de Janeiro, foi companheiro de farras e de da boemia carioca, foi parceiro de Noel Rosa, Wilson Batista, Lamartine Babo, Roberto Martins, entre outros bambas daqueles tempos. Fez jingles (aliás foi o autor do primeiro jingle no Brasil e fez parte do elenco do Programa do Casé). Antonio Gabriel Nássara, ou, simplesmente Nássara, nasceu no Rio de Janeiro no dia 11 de novembro de 1910. Faleceu aos 86 anos, no dia 11 de dezembro de 1996, também no Rio.

Com mais de 60 anos, desiludido com a comercialização do carnaval carioca passou a se dedicar a ilustrar capas de LPS e depois foi  “redescoberto” na década de 70 onde foi trabalhar no Pasquim, - periódico carioca que fazia oposição ao regime militar, e fechado pela repressão tempos depois. Essa pode ser considerada a fase mais importante de Nássara como caricaturista a sua passagem  pelo Pasquim que reunia um time de primeira linha como Ziraldo, Millôr Fernandes, e Jaguar. Esse último Jaguar, se orgulhava de ter redescoberto Nássara. Eles comentam sobre o reencontro com Nássara da qual também participou a pesquisadora escritora e produtora Daniela Shindler.  

 Jaguar se tornou um grande amigo de Nássara pelas histórias do passado que ouvia do período glorioso da música  brasileira.”

 Ziraldo: a convivência com aquele senhor de 64 anos na redação do jornal que diariamente irradiava o seu talento....”

Ouçam trecho desses depoimentos e em seguida uma das criações de Antonio Nássara, uma grande contribuição na arte brasileira, difícil de ser comparada na opinião de muitos pesquisadores.O convívio com a turma do Pasquim, dentre os quais Cássio Loredano (este escreveu posteriormente um livro “Nássara-Desenhista” pela Funarte, em 1985). Loredano também foi quem fez sua indicação para ilustrar um livro infantil, um trabalho diferente do que costumava fazer. Nássara iria ilustrar o livro “Moça Perfumosa – Rapaz Pimpão” de autoria de Daniela Shindler que acabou sendo o último trabalho dele. A autora comentou como foi esse projeto ao lado do caricaturista:

E está aí, uma prova do grande talento de Nássara, o samba emblemático, Mundo de Zinco feita em parceria com Wilson Batista, na vozes de Paulinho de Viola, Chico Buarque e Caetano Veloso


Continua na Página Memória Musical, mais informações sobre Nássara e alguns dos seus memoráveis traços.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

OS 110 ANOS DE NOEL ROSA

 Noel Medeiros Rosa nasceu no RJ em 11 de dezembro de 1910 e morreu no mesmo RJ em 04.05.1937, aos 26 anos vítima de tuberculose. – filho de Manoel Medeiros Rosa gerente de uma camisaria e da  profa. Marta de Azevedo. Sofreu durante toda a sua curta existência as consequências de um parto difícil. O fórceps provocou fratura e afundamento do maxilar, além de ligeira paralisia no lado direito do rosto deixando-o desfigurado, apesar das operações feitas aos 6 e aos 12 anos de idade. Quando era pequeno seu pai foi trabalhar em Araçatuda, interior de SP como agrimensor. A mãe abriu uma escola em Vila Isabel sustentando assim os dois filhos Noel e Henrique. Noel foi alfabetizado pela mãe e aos 13 anos foi para um colégio próximo de sua casa, depois cursou o renomado Colégio São Bento. Era apelidado pelos colegas como “queixinho” e já aos 13 anos, Noel começou a tocar bandolim de ouvido e logo depois violão que aprendeu com seu pai e com amigos da família, como seu primo Adílio, Romualdo Miranda, Vicente “sabonete” e “Cobrinha”. Aos 15 anos Noel já dominava o instrumento tocando em serenatas do bairro.

Noel entrou para a Faculdade de Medicina, mas frequentou apenas dois anos. Dedicando-se daí pra frente ao samba. Era figura presente no “Ponto dos 100 Réis” que ficava em Vila Isabel e local de encontro dos sambistas dos morros carioca. Toda a obra de Noel  tem observação critica e humorística da vida carioca, do cotidiano das pessoas comuns.

Em 1929, aos 19 anos, fazia parte do conjunto Bando do Tangarás formado pelo grande compositor cantor e depois um dos mais importantes radialistas do Brasil, Almirante.. Naquela época resolveu formar esse conjunto voltado para a música nordestina em contraponto a influencia da musica americana, as famosas orquestras de jazz que faziam muito sucesso no Brasil. Então o Bando dos Tangarás formado por Almirante, Noel, Alvinho, João de Barro e Henrique Brito, começou a gravar todas, martelos, cocos, toadas, e Noel para ficar dentro do padrão estabelecido pelo Almirante resolveu fazer algumas músicas. A primeira,  Festa no Céu que é uma toada e foi a primeira música gravada por Noel Rosa, ele ainda vacilante, ainda “verde” como se diz, mas depois dessa primeira gravação ele deslanchou totalmente. Em seguida Minha Viola que é uma embolada naquele formato típico de improviso.

Olivia Byington, cantora, compositora, escritora,  acompanhada da Velha Guarda da Portela, homenageou o poeta da Vila e filósofo do Samba, Noel Rosa,  pelo centenário do seu nascimento que ocorreu em 11 de dezembro de 2010.  Naquele ano,  com o CD intitulado “A Dama do Encantado” como era chamada Aracy de Almeida, a grande interprete do poeta, ao lado de Marília Batista.  O disco não deixa de ser, também, um tributo às duas cantoras preferidas de Noel - Aracy de Almeida e Marilia Batista  - isso fica claro nas 20 faixas do CD lançado pela gravadora Biscoito Fino em 2004. Vamos reviver: COM QUE ROUPA - ORVALHO VEM CAINDO.


Tem mais na página Memória Musical


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

TANCREDO NEVES E O BARBEIRO ASSASSINO

 

Quando era promotor em São João Del Rey,Tancredo Neves pediu 22 anos de condenação para um tal Jesus, que havia matado uma mulher que, por trágica coincidência se chamava Madalena. O júri aplicou 18 anos. Jesus foi cumprir sua pena, posteriormente reduzida. Nove anos depois, agora advogado, Tancredo estava na pequena Andrelândia. Procura uma barbearia, senta-se. Estava  cansado e fecha os olhos e relaxa.

O barbeiro passa a espuma pega a navalha, afia a lâmina para iniciar o serviço.. Puxa conversa com Tancredo.

   - O senhor é o Dr. Tancredo né?

Desconfiado – como bom mineiro – Tancredo abre os olhos e reconhece Jesus, o assassino de São João Del Rey. Um frio na espinha. Espia por todo o ambiente, ninguém por perto, só os dois. Não passava ninguém, não chegava ninguém.

Tancredo só conseguiu dizer – Sou sim...

A navalha ia abrindo caminho na espuma, misturada com o suor do cliente, enquanto a mão pesada de Jesus subia e descia no rosto e deslizando suavemente na garganta. Ambos calados. Tancredo apelando para os sentimentos cristãos de Jesus, o da terra, já concluindo o serviço.

   - Pois é Dr. Tancredo a vida é assim.

   - Pois é Jesus, é a vida.

   - Pois é mesmo Dr. Tancredo. Cumpri nove anos dos 18, e aqui estou eu e o senhor. O senhor com sua barba feita e eu com minha navalha. Eu só queria dizer uma coisa ao senhor: uma coisa só, que coisa bonita é um júri, hein? Que coisa bonita, que discursos bonitos, fizeram o senhor e o outro doutor, encantaram todo o júri, todo mundo. Não esqueço aquele dia.