quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

O IMORTAL JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA

 Quinto ocupante da Cadeira 38, eleito em 27 de outubro de 1966, na sucessão de Maurício de Medeiros e recebido pelo Acadêmico Alceu Amoroso Lima em 28 de junho de 1967. Recebeu o Acadêmico João Cabral de Melo Neto. 

José Américo de Almeida nasceu em Areia, Paraíba, a 10 de janeiro de 1887. Era filho de Inácio Augusto de Almeida e de Josefa Leopoldina Leal de Almeida. Faleceu na cidade de João Pessoa  a 10 de março de 1980.

Órfão de pai aos 9 anos, o menino foi entregue aos cuidados do tio Padre Odilon Benvindo. José Américo fez seus estudos no Seminário da capital do Estado e no Liceu Paraíbano. Em 1903 ingressou na Faculdade de Direito do Recife e após a formatura foi nomeado para o cargo de promotor público na comarca de Sousa. Em 1911 passou a ocupar as elevadas funções de Procurador Geral do Estado.

A publicação do romance "A bagaceira", em 1928, projetou-lhe o nome em todo o país, com o destaque dado à literatura regionalista que, ainda no século XIX, se concentrara, sobretudo, nas obras de Franklin Távora e de Domingos Olímpio

Em 1922 publicara José Américo as "Reflexões de uma cabra" a que se seguiu "A Paraíba e seus problemas"(1923) obra de grande conteúdo social.

Secretário do Interior e Justiça durante o governo de João Pessoa na Paraíba, teve de enfrentar os conflitos políticos na região de Princesa.

Com a vitória da Revolução de 1930 assumiu, de 1930 a 1934, o Ministério da Viação e Obras Públicas. Um desastre aéreo na cidade de Salvador, em 1932, deixou-o seriamente ferido.

Em 1934 Getúlio Vargas o nomeou para o cargo de Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, que não chegou a exercer. Eleito Senador em 1935,foi depois, designado Ministro do Tribunal de Contas da União.

Depois do êxito de "A bagaceira" publicou, ainda, os romances "O boqueirão" (1935)  e "Coiteiros.

Em 1937 foi apresentado como candidato dos partidos governistas à presidência da República, mas o golpe de Estado de 10 de novembro desse ano suprimiu a campanha eleitoral. O Congresso Nacional foi dissolvido e implantado, no país, o Estado Novo.

Em fevereiro de 1945, com uma entrevista ao matutino carioca "Correio da Manhã" José Américo contribuiu decisivamente para pôr fim à ditadura implantada por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937.

Nas eleições de 2 de dezembro de 1945 José Américo foi eleito Senador pelo seu Estado natal. Voltando a ocupar a pasta ministerial da Viação e Obras Públicas em 1951, cargo em que se conservou até o suicídio do Presidente Vargas em de 24 de agosto de 1954.

Entregou-se José Américo à tarefa de escrever as suas memórias e, em 1966, ingressou na Academia Brasileira de Letras, ocupando a vaga deixada pelo trágico falecimento do professor Maurício de Medeiros.

A União Brasileira de Escritores presta-lhe significativa homenagem - em 1977 - como "O Intelectual do Ano".

No ano anterior publicara o homenageado mais um livro de memórias, intitulado "Antes que me esqueça"*. Fonte Academia Brasileira de Letras.

(*) a frase ilustra  o subtítulo do nosso blog.

 


    










Pensamentos de José Américo:

A Verdade

“Há muitas formas de dizer a verdade... Talvez a mais persuasiva seja a que tem a aparência de mentira”. 

Felicidade coletiva

“Para alcançar o ideal de felicidade coletiva basta tornar o Brasil mais produtivo. Criar a prosperidade que não se tira da boca dos pobres, mas do trabalho racional”.

Paixão

“Se escapar alguma exaltação sentimental, é a tragédia da própria realidade. A paixão só é romântica quando é falsa”.

Língua

“A língua nacional tem rr e ss finais... Deve ser utilizada sem os plebeísmos que lhe afeiam a formação. Brasileirismo não é corruptela nem solecismo. A plebe fala errado; mas escrever é disciplinar e construir”.

Povo

“Já conquistei a convenção solene dos partidos. Só me faltava esta, ao ar livre, sem luxo, sem fogos de artifício, sem artifício nenhum. O povo que não vai às festas e vem aqui de roupa de trabalho não quer outro cenário. Fica satisfeito, debaixo do céu, revendo os quadros eternos e sempre novos da terra miraculosa e a cidade inquieta que sobe e desce, nos seus contrastes humanos. Tudo natural, tudo de graça, tudo dado por Deus para os que não podem ter fantasmagorias suntuosas”.


MUITA TOSSE

Secretário do Interior, no governo de João Pessoa, o areiense José Américo incumbiu o major Benício de recrutar homens valentes no interior do Estado, para reforçar a polícia. Estava se preparando para a Revolução que viria naquele mesmo ano de 1930.  O major, homem valente (anos antes, nos sertões, enfrentou o bandos de cangaceiros em várias escaramuças. Era respeitado pela coragem e destemor). “prefiro brigar com o cão, do que com aquela peste” – disse certa vez Lampião.

Ao retornar da missão disse a José Américo, da dificuldade que estava tendo para recrutar cabra valente impressionado com o alto índice de tuberculose que encontrou pelo interior.

   - Os homens são valentes, dispostos, mas há muita tuberculose. A maioria não serve. Não serve nem pra tocaia e emboscadas, dr. José Américo.

   - Por que?

   - Por causa da tosse.


OS TELÚRICOS PARAIBANOS

Alcides Carneiro, era orador  brilhante e reconhecido no Brasil inteiro. Algumas frases suas entraram para as lendas da retórica nacional.:

- “ Falo em Recife, cujas pedras são travesseiros de mártires e heróis”.. Ou inaugurando um hospital um hospital no interior

– “ Esta é uma casa que por infelicidade se procura e por felicidade se encontra”.

Estava fazendo um comício com José Américo e começa a chover.

- “Eu pensava que estava falando sob os aplausos dos homens. Mas vejo que falo também sob as bênçãos de Deus”.

No encerramento, foi a vez de José Américo falar. A chuva tinha parado e uma lua branca pairava no céu. José Américo não resistiu:

 - “ Há os que falam sob os aplausos dos homens e as bênçãos de Deus. Eu falo iluminado pelo castiçal dos pobres, a doce lua, luz do amor”.

 

Num comício em Cajazeiras, no alto sertão, limite fronteiriço com o Ceará. Começou o discurso quando alguém gritou lá de baixo:

 - Fale mais alto dr. José Américo (naquela época não existia alto falante nos comícios).

 - “Não posso. Não quero que os cearenses me ouçam pedindo voto aos paraibanos.


ENQUADRANDO OS MAIAS

Foi eleito governador, ocasião em que o deputado João Agripino Maia lhe fazia cerrada oposição na Câmara Federal. Mandou chamar o tenente Lira (que depois seria eleito deputado estadual):

- Tenente tenho uma missão especial e acabo de nomeá-lo comandante de uma volante. Sua missão é enquadrar com o rigor da lei os Maias de Catolé do Rocha. Sabe o que é enquadrar na lei?

- Sei sim, governador.

- Sabe não. Enquadrar na lei é exigir carteira de identidade de todos os Maias que entrarem na cidade. Quem não tiver vai preso. Enquadrar na lei é desarmar todos os Maias, até de “quicé” (faquinha de cortar fumo para fazer cigarro de palha). Enquadrar na lei é destelhar as casas dos Maias para descobrir criminosos homiziados lá dentro.

Enquadrar na lei é exigir que todos os feirantes ligados aos Maias paguem impostos no Estado e na Prefeitura. Tenente, agora já sabe o que é enquadrar na lei?

- Sei sim, governador.

- Vá tenente e cumpra a sua missão legal.

Resumo: ( uma semana depois, João Agripino fazia as pazes com José Américo).

 

 

 

 

 

 

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