segunda-feira, 24 de maio de 2021

O GAGO BOM DE VOTO

Um fato verídico que aconteceu  em Pernambuco, e até hoje  lembrado. A vitória do “gaguinho” em Palmares, importante cidade da zona da mata sul do Estado.

Nos últimos dias de campanha para as eleições do dia 30 de outubro 1976,  o candidato da Arena na cidade renuncia. Alvoroço total. O governador era Moura Cavalcante, que, aflito, foi pessoalmente à cidade. Reuniu os correligionários:

- Quem devemos indicar para a Prefeitura? Quem é o mais popular na cidade?

- O Gaguinho!  Lembrado por unanimidade.

-É da Arena?

-É, mas o problema é que é gago demais, não fala nada.

-Não tem problema, prefeito não precisa falar, precisa fazer, precisa agir. Tá resolvido, o gago será o candidato da Arena.

E haja comício e o gaguinho lá de cima do palanque acenando para o povo e fazendo o V da vitória. Ganhou sem dizer uma palavra.

O SENADOR BIÔNICO

General Figueiredo era o presidente, foi a Recife e organizaram um jantar em sua homenagem. Começaram os contatos para os convites. Alguém ligou para a  casa do senador Aderbal Jurema:

- É da casa do senador biônico Aderbal Jurema?

A empregada que atendeu responde:

- Respeite o senador. Aqui é uma casa de família. E desligou.

FALTA DE AR

Quando Cordeiro de Farias governava Pernambuco, recebeu a visita do coronel Joca Maranhão, chefe político de Aliança na zona da mata norte. Foi pedir a saída do juiz de Direito.

- Ele não pode continuar lá general. É um “desmantelado”, tem todo tipo de falta, bebe muito, é mulherengo, corrupto, venal, preguiçoso.

- Ele tem todas essas faltas mesmo, coronel?

- Tem general. Tem tudo que é falta. De falta mesmo ele só não tem falta de ar.

CADÊ O MEU VOTO?

Eleições de 1978. Tinham acabado de apurar as urnas de Ipubi, alto sertão de Pernambuco, quase chegando no Piauí. Felipe Coelho, era deputado estadual pela Arena, dono absoluto dos votos daquele curral eleitoral. Para amenizar, deixou passar dois votos para Carlos Caribé, também da Arena.

O MDB não teve nenhum voto. Aliás, teve muitos, sobretudo para Hugo Martins. Mas a máquina de Felipe Coelho estava lubrificada como nunca. Mapeou todos. Na hora de assinar a ata, o juiz eleitoral gritou:

- Cadê meu voto? O que eu dei para Alan Gadelha, do MDB? meu sobrinho? Votei nele e até meu voto vocês levaram? Quero o meu voto na ata.

Refizeram o mapa e a ata. Voto de juiz é como um terço de padre: quem rouba vai para o inferno.

 

terça-feira, 18 de maio de 2021

O FILÓSOFO ULISSES

Já li muito sobre Ulisses Silveira Guimarães, do imaginável ao imaginário. Surpreende até hoje passados tantos anos de sua partida a atualidade de suas previsões. Há uma palavra que não estava no seu dia a dia ou “no seu vocabulário”, como dizia Napoleão Bonaparte, - o cansaço. O mesmo Napoleão,  que, da ilha de Santa Helena recomendou aos seus assessores “a França precisa de uma Constituição. Quero uma Constituição curta e ambígua”. A nossa de 1988, é farta nesse último atributo.

Arquivo Câmara dos Deputados

Reproduzimos, conforme colheu S. Nery, algumas palavras de Ulisses, nas entrevistas e depoimentos:

 -“ Na política, em geral, e especialmente no poder, se você não puder fazer um amigo, não faça um inimigo. O inimigo guarda o ódio na geladeira para conservar. Numa eleição o inimigo amanhece na boca da urna falando mal da mãe do candidato. E é importante não ter inimigos pessoais. Pode-se ter adversários ferrenhos, como eu próprio tive. O Adauto Lúcio Cardoso, o Carlos Lacerda, o Bilac Pinto. E aqui eu recordo um conselho de Perón à sua mulher Isabelita, prevendo que ela assumiria a Presidência da Argentina: - Minha filha, em política fale muito sobre as coisas, pouco sobre as pessoas e nunca sobre você.”

SABER ESCUTAR MAIS E FALAR MENOS

- “É preciso aprender a arte de escutar. Escutar dá até úlcera, dá enfarte. É preciso uma enorme paciência para escutar pessoas que se acham o reinventores da roda, da quadratura do círculo, mas você tem que escutar. Um neófito em política foi procurar o grande Sarmiento, o argentino que foi dos maiores estadistas da América Latina, para saber qual era o segredo do bom comportamento político. Sarmiento respondeu: “Comase la lengua!”.

É isso, coma a própria língua. O rei Faissal, da Arábia Saudita, costuma dizer que Deus deu ao homem dois ouvidos e uma só boca, para ouvir o dobro e falar a metade”.

IMPACIÊNCIA É A INIMIGA DO POLÍTICO

  - “ A impaciência e a afoiteza são inimigas ferrenhas de qualquer político. Além de ser uma das faces da estupidez. Quem está na vida política não pode ganhar uma categoria histórica do dia para a noite. O caminho é longo, paciente e perseverante. A impaciência não acaba só com carreira futebolística”.

SOBRE JUSCELINO

 - Ulisses Guimarães recordou a coragem de Juscelino.

“ Se vocês me perguntarem qual o maior político que eu já conheci, o mais completo, respondo que foi Juscelino. Esse realmente tinha tudo, um pouco de todas as boas qualidades de um homem público. A coragem, por exemplo.

 - Juarez Távora fez um discurso contra ele e o presidente reuniu o Ministério. Os ministros estavam divididos, porque Juarez era um general de quatro estrelas, um monumento nacional, antigo vice-rei do Nordeste e disputara a presidência contra o próprio Juscelino; até o ministro da Guerra marechal Teixeira Lott, estava na noite. Aí o Juscelino encerrou as discussões:

Ministro, - dirigindo-se a Lott, - eu só quero saber se o pronunciamento dele infringiu os regulamentos militares.

- Infringiu, respondeu Lott.

- Então mande prendê-lo, concluiu Juscelino. E encerrou a reunião.

Eu me virei para o Nelson Jobim, que estava também presente e disse: amanhã o governo está no chão.

- Nada disso – ele me respondeu. Não vai acontecer nada. Juarez  será preso e vai nascer grama na sua porta, porque ninguém vai lá.

De fato, não aconteceu nada, mas foi preciso muita coragem para mandar prender Juarez Távora”.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

COISAS DE CEARENSES

 O folclore social e político do Ceará é um dos mais ricos, desde há muito tempo. Conta Sebastião Nery no seu Folclore Político.

 - “Em 1944, Oiama Teles, era “cabo de serviço” no gabinete do Ministro da Guerra , Eurico Gaspar Dutra, na praça da República no Rio. Chegou um soldado para servir  também lá.

- Por que você veio para cá?

- Seu cabo, eu sou do Ceará, estou aqui no Rio, fui convocado para a guerra, mas não quero ir, consegui ser colocado para servir aqui no gabinete.

-Como é o seu nome?

-Armando Falcão

Ficaram amigos para o resto da vida. Quer dizer, até o dia em que o Ministro da Justiça do presidente Geisel, Armando Falcão, chamou Oiama para ser seu assessor de imprensa e Oiama, jornalista, democrata, devoto de Santa Teresinha e contra a censura, rompeu com o ministro para não compactuar com a censura à imprensa.

REVÓLVER A GÁS

Crisanto Pimentel, era filho do velho líder do Partido Social Democrata PSD, cearense, Menezes Pimentel.  Corria o ano de 1958.

Crisanto oferecia uma feijoada para vários conterrâneos em seu apartamento no Rio. Na ocasião chegou Virgílio Távora, mostrando um revólver vindo dos Estados Unidos, que acabara de ganhar de presente do compadre e vice-presidente João Goulart.

- “Este revólver é a gás não mata ninguém. A gente atira, o sujeito cai e meia hora depois está de pé. Mas vencido.

 Francisco de Almeida Monte, coronel Chico Monte, deputado e também sogro de Percifal Barroso, que foi ministro e depois governador, ficou tarado pelo tal revólver a gás.

  - “Então é assim Virgílio? A gente atira, o sujeito cai e não morre? Que beleza. Vou arranjar um.

 - Para quê seu Chico?

- Para depois que ele cair eu retalhar ele na faca.

NA SECA DE 15

O padre Coelho, vigário de Iguatu, no ano de 1932, pedia ao povo para que rezasse para chover:

- Meus filhos, rezemos e tenhamos fé que a chuva há de chegar. Lembre-se que Deus está no céu.

Lá no fundo da igreja um velho tossiu e perguntou:

- “Seu vigário , e na seca de 15 onde é que ele estava?

 

 

 

 

 

segunda-feira, 3 de maio de 2021

O RABINO QUE VIROU SANTO

Para muitos amazonenses é santo sim, quer queira quer não! Local de peregrinação e orações, pedidos e súplicas na esperança de cura para doenças graves, o seu túmulo, em Manaus-AM, tornou-se ao longo de décadas local para entrega de presentes e agradecimentos por graças alcançadas. Católicos de toda região Norte, recorrem ao santo judeu milagreiro de Manaus, Emannuel Muuyal.

           Sepultura do rabino Emannuel Muuyal.
A saga dos judeus que, no começo do século 19 e ao longo de mais de 150 anos, deixaram o norte da África, (Marrocos – mais precisamente), para viver na região amazônica, já chamou a atenção de muita gente pelo resto do mundo.

Graças a inúmeras reportagens, documentários, e pesquisas realizadas, a história dos caboclos judeus da floresta, foi amplamente relatada no documentário “Eretz Amazônia” ou Terra da Amazônia, em hebraico, produzido com o apoio da TV Cultura do Estado do Pará.

- “Eles se autodenominam “os hebraicos” e vieram para a região amazônica no tempo áureo da borracha, espalhando-se pela região que vai desde Belém até Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia. Hoje, estima-se que são cerca de 60 mil e mantêm vivas as tradições e leis judaicas” –  extraído do Almanaque do Aluá nº 2 (SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade). MEC. Janeiro 2006.

Entre as muitas histórias curiosas que se contam desse povo está a história de um rabino que virou um santo popular católico. A história do rabino Emannuel Muuyal, que deixou a Palestina, por volta de 1900 para iniciar uma campanha de arrecadação de dinheiro, para manter a sua escola de rabinos na Terra Santa. Ao chegar no Marrocos, soube que muitos dos seus tinham vindo para a região norte do Brasil, fazer fortuna com a extração da borracha. “O rabino, então, viajou ao Brasil e se estabeleceu em Manaus”. Continua na coluna PERISCÓPIO.

 

  

sábado, 1 de maio de 2021

Trabalhadores de Nova Iorque

Durante muitos anos comentou-se que era uma fotomontagem, mas, com o tempo comprovou-se que não. Na época, um a cada dez operários estavam desempregados. 

A verdadeira história da foto mais comentada no Dia do Trabalho. A imagem de onze homens anônimos sentados numa viga a cerca de 250 metros de altura, sem nenhuma segurança, durante um intervalo de almoço. A imagem impactante do ano 1932 de autoria do fotógrafo profissional Charles Ebberts, reflete o cenário da falta de segurança para os milhões de operários da construção civil, nos anos de fome e miséria provocados pelo “crack” da Bolsa de Valores em 1929.

A queda da Bolsa de Valores em 1929 havia arrastado o país a uma crise econômica, sem precedentes e em seguida pelo resto do mundo. Aos poucos a economia mundial foi se recompondo, graças ao impulso das grandes fortunas grandes arranhas céus foram sendo construídos, como o Rockfeller Center, um conjunto de 14 edifícios, e o Empire State, entre outros.

Os operários devido ao desemprego se sujeitavam a todo tipo de risco. Centenas deles morreram. Só em Nova Iorque foram cerca de 400 em menos de dez anos. A maioria deles imigrantes, que ganhavam um dólar e meio por dia, em precárias condições de vida, que mal dava para sobreviver.

Conta-se que naquele período a desocupação era tão grande que muitos deles formavam filas nas frentes das obras, esperando que algum operário despencasse lá de cima para tomar o seu lugar.

A média era essa. A cada piso do edifício que era concluído morria um trabalhador. A palavra de ordem e a regra de ouro era: “não olhe para baixo!

Em outra imagem Charles Ebbets é fotografado numa das vigas durante a construção do Rockfeller Center. Nova Iorque, 1932.