terça-feira, 18 de maio de 2021

O FILÓSOFO ULISSES

Já li muito sobre Ulisses Silveira Guimarães, do imaginável ao imaginário. Surpreende até hoje passados tantos anos de sua partida a atualidade de suas previsões. Há uma palavra que não estava no seu dia a dia ou “no seu vocabulário”, como dizia Napoleão Bonaparte, - o cansaço. O mesmo Napoleão,  que, da ilha de Santa Helena recomendou aos seus assessores “a França precisa de uma Constituição. Quero uma Constituição curta e ambígua”. A nossa de 1988, é farta nesse último atributo.

Arquivo Câmara dos Deputados

Reproduzimos, conforme colheu S. Nery, algumas palavras de Ulisses, nas entrevistas e depoimentos:

 -“ Na política, em geral, e especialmente no poder, se você não puder fazer um amigo, não faça um inimigo. O inimigo guarda o ódio na geladeira para conservar. Numa eleição o inimigo amanhece na boca da urna falando mal da mãe do candidato. E é importante não ter inimigos pessoais. Pode-se ter adversários ferrenhos, como eu próprio tive. O Adauto Lúcio Cardoso, o Carlos Lacerda, o Bilac Pinto. E aqui eu recordo um conselho de Perón à sua mulher Isabelita, prevendo que ela assumiria a Presidência da Argentina: - Minha filha, em política fale muito sobre as coisas, pouco sobre as pessoas e nunca sobre você.”

SABER ESCUTAR MAIS E FALAR MENOS

- “É preciso aprender a arte de escutar. Escutar dá até úlcera, dá enfarte. É preciso uma enorme paciência para escutar pessoas que se acham o reinventores da roda, da quadratura do círculo, mas você tem que escutar. Um neófito em política foi procurar o grande Sarmiento, o argentino que foi dos maiores estadistas da América Latina, para saber qual era o segredo do bom comportamento político. Sarmiento respondeu: “Comase la lengua!”.

É isso, coma a própria língua. O rei Faissal, da Arábia Saudita, costuma dizer que Deus deu ao homem dois ouvidos e uma só boca, para ouvir o dobro e falar a metade”.

IMPACIÊNCIA É A INIMIGA DO POLÍTICO

  - “ A impaciência e a afoiteza são inimigas ferrenhas de qualquer político. Além de ser uma das faces da estupidez. Quem está na vida política não pode ganhar uma categoria histórica do dia para a noite. O caminho é longo, paciente e perseverante. A impaciência não acaba só com carreira futebolística”.

SOBRE JUSCELINO

 - Ulisses Guimarães recordou a coragem de Juscelino.

“ Se vocês me perguntarem qual o maior político que eu já conheci, o mais completo, respondo que foi Juscelino. Esse realmente tinha tudo, um pouco de todas as boas qualidades de um homem público. A coragem, por exemplo.

 - Juarez Távora fez um discurso contra ele e o presidente reuniu o Ministério. Os ministros estavam divididos, porque Juarez era um general de quatro estrelas, um monumento nacional, antigo vice-rei do Nordeste e disputara a presidência contra o próprio Juscelino; até o ministro da Guerra marechal Teixeira Lott, estava na noite. Aí o Juscelino encerrou as discussões:

Ministro, - dirigindo-se a Lott, - eu só quero saber se o pronunciamento dele infringiu os regulamentos militares.

- Infringiu, respondeu Lott.

- Então mande prendê-lo, concluiu Juscelino. E encerrou a reunião.

Eu me virei para o Nelson Jobim, que estava também presente e disse: amanhã o governo está no chão.

- Nada disso – ele me respondeu. Não vai acontecer nada. Juarez  será preso e vai nascer grama na sua porta, porque ninguém vai lá.

De fato, não aconteceu nada, mas foi preciso muita coragem para mandar prender Juarez Távora”.

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