Dos nomes históricos da política baiana temos um dos mais ilustres. Otávio Mangabeira. Nasceu em 1886. Foi vereador, deputado federal em três períodos, ministro de Relações Exteriores, governador e senador. Na política foi tudo que desejou ser. Conhecia todas as manhas em matéria de fazer política. Definia:
- “Política é conversa. Quanto mais as coisas se complicam, mais os políticos conversam”, corroborando o que dizia outro conterrâneo seu, Luís Viana, pai do Luís Viana Filho:
- “Dizem
que a situação está embrulhada, um novelo só! Então está boa. Quanto mais
embrulhada melhor, se não ficar assim, para que servem os políticos? – Perdemos
todos o emprego e a razão de ser. Política é para isso mesmo: para desembrulhar
as situações.
Mangabeira sabia como ninguém ganhar e perder.
Exilado
em 1930, o ex-chanceler brasileiro estava na Bélgica. Lá se encontrou com um
colega chinês, também exilado e ex-ministro. Eram velhos conhecidos de conferências
internacionais e a conversa foi espichando. Mangabeira estava inconformado com
o exílio e estava surpreso com a tranquilidade e serenidade do colega chinês.
- O
que se deve fazer quando a política vira e a gente perde o poder e o direito de
viver na própria pátria?
-
Rezar, respondeu o chinês.
Quinze
anos depois Mangabeira estava de novo no poder. Mandando!
XADREZ AMPLO E CONFORTÁVEL
Quando era
governador, recebeu a visita do presidente Dutra. Foram até Barreiras, terra de
Antônio Balbino e Tarcilo Vieira de Melo. A comitiva foi saudada pelo agente do
IBGE local e rábula famoso na região, José Mariano de Souza.
O
orador enumerou todas as obras construídas pelo governador. O hospital, o
serviço de abastecimento d’água, o ginásio, “e a nova cadeia, com amplos e
confortáveis xadrezes”.
Mangabeira
fechou a cara não disse nada. Acabados os discursos chamou Orlando Rodrigues,
chefe político do município:
- “Seu Orlando, quando formos embora, mande prender esse orador. Já estive preso várias vezes e nunca vi “xadrez amplo e confortável”. Esse cretino precisa aprender que não se deve elogiar cadeia nem carcereiro.
GRATIDÃO PRESCRITA
Chegou
certo dia à casa do senador José Cândido Ferraz e encontrou na sala em grande
retrato do brigadeiro Eduardo Gomes:
- Você
ainda guarda este santo na redoma?
- Claro, doutor Otávio. É uma homenagem a um
grande brasileiro e um gesto de gratidão pessoal.
- Ora, seu Zé Cândido, a homenagem eu
compreendo. Mas gratidão política a gente só guarda seis meses. E faz mais de
quatro anos que ele perdeu pela segunda vez. Essa sua gratidão, pode ter
certeza, já está prescrita!
CABEÇA GRANDE
Ulisses
Guimarães chegou na Câmara Federal com uma admiração enorme por Gustavo
Capanema. Conversava com Otávio Mangabeira.
-
Doutor Otávio o senhor não acha que o Capanema é um dos homens mais
inteligentes do País?
- Não acho não Ulisses. O Capanema é muito
talentoso sem dúvida, mas, muito confuso. E não tem culpa. O problema é a
cabeça. Repare a cabeça dele, tem três andares. Até a ideia descer lá de cima e
chegar na boca perde-se muito conteúdo.
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