terça-feira, 16 de março de 2021

OS VELHOS BAIANOS

 Dos nomes históricos da política baiana temos um dos mais ilustres. Otávio Mangabeira. Nasceu em 1886. Foi vereador, deputado federal em três períodos, ministro de Relações Exteriores, governador e senador. Na política foi tudo que desejou ser. Conhecia todas as manhas em matéria de fazer política. Definia:

- “Política é conversa. Quanto mais as coisas se complicam, mais os políticos conversam”, corroborando o que dizia outro conterrâneo seu, Luís Viana, pai do Luís Viana Filho:

- “Dizem que a situação está embrulhada, um novelo só! Então está boa. Quanto mais embrulhada melhor, se não ficar assim, para que servem os políticos? – Perdemos todos o emprego e a razão de ser. Política é para isso mesmo: para desembrulhar as situações.

Mangabeira sabia como ninguém ganhar e perder.

Exilado em 1930, o ex-chanceler brasileiro estava na Bélgica. Lá se encontrou com um colega chinês, também exilado e ex-ministro. Eram velhos conhecidos de conferências internacionais e a conversa foi espichando. Mangabeira estava inconformado com o exílio e estava surpreso com a tranquilidade e serenidade do colega chinês.

-  O que se deve fazer quando a política vira e a gente perde o poder e o direito de viver na própria pátria?

- Rezar, respondeu o chinês.

Quinze anos depois Mangabeira estava de novo no poder. Mandando!

 

XADREZ AMPLO E CONFORTÁVEL

Quando era governador, recebeu a visita do presidente Dutra. Foram até Barreiras, terra de Antônio Balbino e Tarcilo Vieira de Melo. A comitiva foi saudada pelo agente do IBGE local e rábula famoso na região, José Mariano de Souza.

O orador enumerou todas as obras construídas pelo governador. O hospital, o serviço de abastecimento d’água, o ginásio, “e a nova cadeia, com amplos e confortáveis xadrezes”.

Mangabeira fechou a cara não disse nada. Acabados os discursos chamou Orlando Rodrigues, chefe político do município:

- “Seu Orlando, quando formos embora, mande prender esse orador. Já estive preso várias vezes e nunca vi “xadrez amplo e confortável”. Esse cretino precisa aprender que não se deve elogiar cadeia nem carcereiro.


GRATIDÃO PRESCRITA

Chegou certo dia à casa do senador José Cândido Ferraz e encontrou na sala em grande retrato do brigadeiro Eduardo Gomes:

- Você ainda guarda este santo na redoma?

- Claro, doutor Otávio. É uma homenagem a um grande brasileiro e um gesto de gratidão pessoal.

- Ora, seu Zé Cândido, a homenagem eu compreendo. Mas gratidão política a gente só guarda seis meses. E faz mais de quatro anos que ele perdeu pela segunda vez. Essa sua gratidão, pode ter certeza, já está prescrita!

 

CABEÇA GRANDE

Ulisses Guimarães chegou na Câmara Federal com uma admiração enorme por Gustavo Capanema. Conversava com Otávio Mangabeira.

- Doutor Otávio o senhor não acha que o Capanema é um dos homens mais inteligentes do País?

- Não acho não Ulisses. O Capanema é muito talentoso sem dúvida, mas, muito confuso. E não tem culpa. O problema é a cabeça. Repare a cabeça dele, tem três andares. Até a ideia descer lá de cima e chegar na boca perde-se muito conteúdo.

Em tempo: Quarto ocupante da Cadeira 23, eleito em 25 de setembro de 1930, na sucessão de Alfredo Pujol e recebido pelo Acadêmico Afonso Celso em 1º de setembro de 1934. Octávio Mangabeira (Octávio Cavalcanti Mangabeira), engenheiro civil, jornalista, professor, político, diplomata, orador e ensaísta, nasceu em Salvador, BA, em 27 de agosto de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 29 de novembro de 1960. (grafia do nome conforme a ABL).

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