segunda-feira, 28 de setembro de 2020

DELEGADO DE CAPELA E O GOVERNADOR

Juca Malta, delegado de Capela, faz uma visita ao amigo e governador Silvestre Péricles..

-  O que há de novo por lá?  Tudo em ordem?

-  Qual nada governador. Todo mundo esculhamba o senhor e a gente fica sem poder fazer nada.

Silvestre ficou possesso.

- Como assim? Você não é o delegado? Meta esses cabras na cadeia!

- Mas as vezes não é possível,  sabe aquele dono da mercearia? Aquele corno que é vereador  da oposição, o senhor  conhece, está sempre esculhambando o senhor. Outro dia dei voz de prisão e ele apresentou um tal habeas-corpus preventivo, aí fiquei sem poder fazer nada, ainda por cima fiquei desmoralizado.

Silvestre levantou a cabeça desapontado com  o delegado.

- Se fosse comigo, pegava esse habeas-corpus rasgava e enfiada na boca dele. Levava esse safado para a cadeia e ainda lhe dava uma boa surra.

O delegado voltou para Capela, foi ao bar a avisou o que faria na próxima vez que ouvisse ofensas ao governador. O dono do bar chamou o juiz da cidade, que, indignado, mandou prender o delegado.

Por telefone, o delegado Juca Malta pediu socorro ao governador:

- Você é louco Juca? Como é que fez uma besteira dessas? Estranhou Silvestre.

O delegado não entendeu.

-Mas, governador, eu fiz o que  o senhor disse que faria se estivesse no meu lugar...

- Ora Juca, eu faria porque sou o governador do Estado. E, por falar nisso, como governador não posso manter um delegado que não respeita a justiça. Você está demitido. E desligou. 
(“Mil Dias de Solidão” págs. 139,140 - Cláudio Humberto Rosa e Silva)

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