O alagoano Jorge Mateus de Lima, nasceu dia 23 de abril de 1893 na cidade alagoana de União dos Palmares (o Âlamo de Zumbi). Faleceu no Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953) foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro. Viria a se consagrar como autor de um vasto poema em dez cantos com uma diversidade enorme de formas, ritmos e intertextos.
Voltou
para Maceió em 1915 onde se dedicou à medicina, além
da literatura e da política. Quando se mudou de Alagoas para o Rio,
em 1930, montou um consultório na Cinelândia, transformado também em ateliê
de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Reunia-se lá gente como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia.
Também exerceu o cargo de deputado estadual, de 1918 a 1922.
Com a Revolução de 1930 foi
levado a radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro.
Em 1939 passou
a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições.
Em 1952, publicou seu livro mais importante, o
épico Invenção de Orfeu. Em 1953,
meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do
Congresso de Washington, nos Estados Unidos.
Curiosidade
Jorge de Lima
candidatou-se seis vezes para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de
Letras (ABL), no entanto, não conseguiu o cargo.
Poema
de onde sai um mundo, um mundo apenas aparentemente extinto, aparente domínio
do branco sobre o negro. Tão distante e tão presente na vida do povo
brasileiro.
Hoje
são outras as práticas e outras as relações de domínio entre seres humanos, mas
a sua verdade, tão pungentemente aqui descrita, permanece...
Negra Fulô :
Antes era assim que a Sinhá tratava a Negra Fulô :
“vem cá peste”...vem cá nega miseravi... “Essa praga num presta”. “vai balançar o menino nêga infeliz”, “Cadê a roupa lavada do teu Sinhô, tú ainda não passou o ferro?” “já arrumou a camarinha do teu Sinhô”? ...
Negra Fulô :
Antes era assim que a Sinhá tratava a Negra Fulô :
“vem cá peste”...vem cá nega miseravi... “Essa praga num presta”. “vai balançar o menino nêga infeliz”, “Cadê a roupa lavada do teu Sinhô, tú ainda não passou o ferro?” “já arrumou a camarinha do teu Sinhô”? ...
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo...!)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô
ficou logo pra mucama,
pra vigiar a Sinhá
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!...
E lá ia ela de olhos fechados...
no seu mundo de sonhos...para sua narrativa:
“Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco.”
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
E lá ia ela:
“Minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou.”
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou.
Ah! foi você que roubou.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?
Essa negra Fulô!
Nenhum comentário:
Postar um comentário