Cearense de Fortaleza, Rachel de Queiroz nasceu no dia 17 de novembro de 1910. E
morreu no dia 4 de novembro de 2002, portanto às vésperas de completar 93
anos. Ao longo destes anos, tão bem vividos, ela foi sempre uma admirável
escritora., que ainda há pouco tempo lançou o livro Tantos Anos, escrito a quatro mãos com a irmã Maria Luíza. “Sem
ela, não haveria livro, que me arrancou à força. Trabalhamos juntas durante
quatro anos, ela me perguntando e eu respondendo”, contava a autora de livros
consagrados e referenciais, como O Quinze - escrito quando tinha
apenas 20 anos, uma obra pronta e acabada, que a consagrou no universo
literário do país. Escreveu também Lampião, A beata Maria do Egito,
João Miguel, Caminho de pedras, O galo de ouro, Memorial
de Maria Moura, Dôra Doralina e As três Marias, seus dois
melhores romances. Transparente, coerente e sincera, com a
sensibilidade nordestina à flor da pele, Rachel ofereceu-nos sempre uma
permanente lição de fidelidade à sua vida de contadora de histórias. Poucos
autores conseguiram, melhor do que ela, escrever com tanta desenvoltura e simplicidade. Sua prosa é sóbria, coloquial
e escorreita; trafega, límpida, fagueira e impávida, pelos olhos do leitor,
sem transbordamentos, sem excessos e sem retumbâncias, dentro de uma
narrativa não raro dramática, com enfoque especial contra os estamentos
preconceituosos da aristocrática sociedade de então. Foi a pioneira da temática social no
romanceiro nordestino: dos paraibanos José Américo, José Lins do Rêgo e
Ariano Suassuna; do pernambucano Gilberto Freyre; do alagoano Graciliano
Ramos; do sergipano Amando Fontes e do baiano Jorge Amado. Foi pioneira
também na Academia Brasileira de Letras, a primeira mulher a eleger-se em
nossos quadros de Membros Efetivos, para a Cadeira n.º 5, na sucessão de
Cândido Mota Filho. O presidente Jânio Quadros quis nomeá-la ministra da
Educação, mas ela não aceitou o convite, por entender que uma professora do
Ceará não devia ocupar um Ministério. E se perguntava: “Como continuar sendo
escritora e ministra ao mesmo tempo?” Revelava que aos 20 anos já estava no
Partido Comunista: “Logo cedo, porém, vi
que era impossível a convivência
de pessoas inteligentes com comunistas militantes. Dois anos depois,
rompi com o partido, quando ele censurou uma peça minha e quis me obrigar a
fazer uma auto-censura. Fui então expulsa solenemente. Chamaram-me até de
policial-fascista, embora ainda hoje me tenho como socialista e, por isto
mesmo, estou a milhares de quilômetros da Rússia”. Seu tataravô era tio e padrinho do
romancista José de Alencar, do qual se considera assim uma descendente. Por
parte dos Alencares, era prima do Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco. Morou durante 12 anos na ilha do Governador; residiu durante 14 anos
na Rua Cândido Mendes, na Glória; e há vários anos, morava em seu refúgio da
Rua Rita Ludolf, no Leblon. Sua única filha morreu com 1 ano e meio de idade.
Coube-lhe criar a irmã Maria Luíza, além dos netos Flávio e Daniel, que
considerava filhos. Dizia: “Os avós
não têm obrigação de educar os netos. Só de amá-los. Educação é tarefa dos
pais”. E quanto aos seus livros? “Não costumo
relê-los. De certo modo, sinto até um pouco de vergonha deles, embora alguns
me persigam até hoje. De nenhum fiz propriamente um lançamento, com noite de
autógrafos. Eles sempre chegavam discretamente às livrarias e aí ficavam à
disposição”. Rachel se considerava uma senhora avó, que já havia pago todas as prestações da vida. E, ao
contrário do sertanejo, que, quando recebe um convite para tomar chá,
responde: “Obrigado, mas não estou doente”, Rachel gostava de chá e, por
isto, não estranhou o da Academia Brasileira de Letras, nas nossas quintas-feiras. Vascaína e adepta do casamento, ela
escrevia por obrigação, nunca teve fé, era uma atéia mística, com nostalgia de religião, de Deus e de uma alma
imortal, que não sabia se tinha, mas que gostaria de ter. |
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Só mesmo ele, Murilo,
advogado, jornalista e escritor que começou a mexer com as letras muito cedo,
aos doze anos, no Diário de Natal, depois na “A Ordem”, no centenário “A
República” tendo incursionado também
pela rádio (Rádio Educadora de Natal). Trabalhou nos Diários Associados, na
Revista Manchete, acompanhou como repórter a construção de Brasília, desde os
primeiros alicerces. Tornou-se um dos mais respeitados e acreditados jornalistas do país,
entrevistou reis, rainhas, imperadores, presidentes e ditadores. Cobriu
brilhantemente as guerras do Vietnam e do Camboja.
Dia 3 de outubro de 1959, ela escreveu na última página da revista O
Cruzeiro onde, semanalmente publicava seus textos, sobre seu encontro com o
poeta, o Cego Aderaldo, cujo teor publicamos aqui no Blog no dia 5 de agosto último na
página “Periscópio”
“O povo
da cidade grande não pode fazer idéia do que é o renome e a grandeza de um
cantador de viola. Êle é a voz cantadeira de tôda uma gente que não tem outra
forma de expressão própria, que não lê nem escreve e, na sua necessidade de
poesia e comunicação, fala e se entende pela bôca do cantador. Êle é o lírico,
o épico, o noticioso, o cômico”
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