quinta-feira, 26 de novembro de 2020

PRETO NÃO ENTRA

 AS VOZES NEGRAS DO Rádio no Brasil

Conforme prometemos, vamos destacar alguns dos milhares de artistas negros brasileiros no campo de musicalidade. Enumerá-los é tarefa das mais difíceis, de modo que vamos destacar uns poucos que alcançaram o estrelato, justamente porque ganharam notoriedade e reconhecimento num dos momentos da nossa história, onde mais era latente o tal preconceito de cor. Época do preconceito escancarado, ao contrario do preconceito velado como se ver em algumas situações aqui na nossa chamada “Democracia Racial”, justamente entre diretores e os produtores de shows. (até nisso o s brasileiros queriam imitar os norte-americanos). Recomendo  o filme “Raça”  no Netflix. Vamos voltar ao nosso tema, porque preconceito é assunto para sociólogos.

Blecaute, Chocolate, Risadinha, Gasolina, Príncipe Pretinho, Vassourinha e Pato Preto. São apelidos, nomes artísticos, ou vulgos? Todos, sem exceção, são artistas negros da chamada Era de Ouro do Rádio, alguns chegaram depois TV. Até o nosso Luiz Gonzaga, sentiu o problema em 1951 ao tentar entrar na Rádio Gazeta de São Paulo, para assistir uma apresentação de um amigo sanfoneiro. Mas, o saudoso “Gonzagão” não se intimidou. Denunciou  o fato à Revista do Rádio -  uma das mais lidas revistas da época – dando detalhes do ocorrido. Título da matéria:  “Preto não Entra”. O porteiro proibiu sua entrada em “trajes civis” ele só era visto em sua indumentária pública de cangaceiro nos palcos. Primeiro alegou que os ingressos estavam esgotados, Gonzaga argumentou que também era artista. Entrou na marra, foi contido ainda no primeiro andar pelo porteiro e mais dois seguranças. Destava vez foi claro. Preto não entrava! Veio o diretor da emissora que se desculpou pelo ocorrido e permitindo que ele entrasse. Gonzaga lembrou depois: “ não é era primeira vez, quando tentou namorar uma branca, teve que fugir de Exu em 1930”.

Dos acima citados, vamos destacar o hoje também esquecido Vassourinha - Mário de Almeida Ramos, nasceu em 1923, trabalhava na limpeza da rádio Record, gostava de cantarolar  enquanto varria os corredores da rádio. Mas, o apelido herdou não do seu instrumento de trabalho e sim de um motorista de táxi apelidado de “Vassoura” e que frequentava a emissora. Como eram muito parecidos começaram a chama-lo filho de Vassoura e acabou como  “Vassourinha”. Extremamente talentoso e comunicativo. Aos l2 anos, franzino e mirrado, já começava a cantar nos programas de auditório. Todos os críticos e pesquisadores nessa área são unânimes: “dificilmente um cantor negro, jovem,  alcançaria a projeção que o sambista da Record  conquistou. Aos l5 anos de idade, “ o moleque de ouro” da Record,  já era ídolo da emissora do  Paulo Machado de Carvalho. Os contratos pipocavam de todos os cantos do País”, diz Thaís  Matarazzo Cantero, pesquisadora  e jornalista, autora  do livro “Artistas Negros da música popular e do rádio”, (Expressões & Arte Editora, 403 páginas.)

Vassourinha dividiu os palcos com os maiores nomes da música na época, entre os quais, Sílvio Caldas, Almirante, Carmen Miranda, Aos 18 anos, o menino pobre do subúrbio da Barra Funda, filho de mãe solteira, ganhava a fortuna de 600 mil réis. Foi curta a sua passagem pelas gravadoras. Estreou na Colúmbia com dois clássicos: “Juracy” de Antonio Almeida/Ciro de Souza  e  “Seu Libório”  de João de Barro (Braguinha)  e Alberto Ribeiro.

Um ano depois gravou o samba  “Emília” Haroldo Lobo  e Wilson Batista. Morreu no dia 3 de agosto de 1943, aos l9 anos, no auge do sucesso. vítima de tuberculose.

Na página Memória Musical ouça Vassourinha nas gravações originais de “Emília” na gravadora Colúmbia que depois seria a gravadora Continental. Gravação feita no dia 19 de setembro de 1941. Depois vem o apelo, “Volta prá casa Emília”. São os males do amor no desabafo e na visão dos compositores, Antonio Almeida e do parceiro José Batista.

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