Já li muito sobre Ulisses Silveira Guimarães, do imaginável ao imaginário. Surpreende até hoje passados tantos anos de sua partida a atualidade de suas previsões. Há uma palavra que não estava no seu dia a dia ou “no seu vocabulário”, como dizia Napoleão Bonaparte, - o cansaço. O mesmo Napoleão, que, da ilha de Santa Helena recomendou aos seus assessores “a França precisa de uma Constituição. Quero uma Constituição curta e ambígua”. A nossa de 1988, é farta nesse último atributo.
Arquivo Câmara dos Deputados
Reproduzimos,
conforme colheu S. Nery, algumas palavras de Ulisses, nas entrevistas e
depoimentos:
-“ Na política, em geral, e especialmente no
poder, se você não puder fazer um amigo, não faça um inimigo. O inimigo guarda
o ódio na geladeira para conservar. Numa eleição o inimigo amanhece na boca da
urna falando mal da mãe do candidato. E é importante não ter inimigos pessoais.
Pode-se ter adversários ferrenhos, como eu próprio tive. O Adauto Lúcio Cardoso,
o Carlos Lacerda, o Bilac Pinto. E aqui eu recordo um conselho de Perón à sua
mulher Isabelita, prevendo que ela assumiria a Presidência da Argentina: -
Minha filha, em política fale muito sobre as coisas, pouco sobre as pessoas e
nunca sobre você.”
SABER ESCUTAR MAIS E FALAR MENOS
- “É
preciso aprender a arte de escutar. Escutar dá até úlcera, dá enfarte. É
preciso uma enorme paciência para escutar pessoas que se acham o reinventores
da roda, da quadratura do círculo, mas você tem que escutar. Um neófito em
política foi procurar o grande Sarmiento, o argentino que foi dos maiores estadistas
da América Latina, para saber qual era o segredo do bom comportamento político.
Sarmiento respondeu: “Comase la lengua!”.
É isso,
coma a própria língua. O rei Faissal, da Arábia Saudita, costuma dizer que Deus
deu ao homem dois ouvidos e uma só boca, para ouvir o dobro e falar a metade”.
IMPACIÊNCIA É A INIMIGA DO POLÍTICO
- “ A impaciência e a afoiteza são inimigas
ferrenhas de qualquer político. Além de ser uma das faces da estupidez. Quem
está na vida política não pode ganhar uma categoria histórica do dia para a
noite. O caminho é longo, paciente e perseverante. A impaciência não acaba só
com carreira futebolística”.
SOBRE JUSCELINO
- Ulisses Guimarães recordou a coragem de
Juscelino.
“ Se vocês
me perguntarem qual o maior político que eu já conheci, o mais completo,
respondo que foi Juscelino. Esse realmente tinha tudo, um pouco de todas as
boas qualidades de um homem público. A coragem, por exemplo.
- Juarez Távora fez um discurso contra ele e o
presidente reuniu o Ministério. Os ministros estavam divididos, porque Juarez
era um general de quatro estrelas, um monumento nacional, antigo vice-rei do
Nordeste e disputara a presidência contra o próprio Juscelino; até o ministro
da Guerra marechal Teixeira Lott, estava na noite. Aí o Juscelino encerrou as discussões:
Ministro,
- dirigindo-se a Lott, - eu só quero saber se o pronunciamento dele infringiu
os regulamentos militares.
- Infringiu,
respondeu Lott.
- Então
mande prendê-lo, concluiu Juscelino. E encerrou a reunião.
Eu me
virei para o Nelson Jobim, que estava também presente e disse: amanhã o governo
está no chão.
- Nada
disso – ele me respondeu. Não vai acontecer nada. Juarez será preso e vai nascer grama na sua porta,
porque ninguém vai lá.
De
fato, não aconteceu nada, mas foi preciso muita coragem para mandar prender
Juarez Távora”.