terça-feira, 19 de janeiro de 2021

GESTO DE GRANDEZA (Dinarte)

No exílio, saudoso e triste, escrevia aos amigos e revelava a saudade de Natal e do seu Rio Grande do Norte.

“-Tinha a cara e a alma do seu povo”, conhecia seus hábitos, costumes, cultura, folclore, sem demagogia, porque tudo nele era natural. Escreveu com propriedade o assuense, João Batista Machado. Trata-se de Djalma Maranhão, ex-prefeito de Natal. Apeado do poder pelo movimento militar de 1964, preso, exilado e depois a morte no desterro. Montevideu, Uruguai.

Vendo-se doente e sentindo  proximidade da morte, pede ao dono da pensão onde morava, que se acontecesse algo com ele, ligasse para o senador Dinarte Mariz, em Brasília ou no Rio de Janeiro e transmitisse a ele que seu último desejo era ser sepultado no Rio Grande do Norte.


- “Numa madrugada, - escreveu Machado em “O Poti” em 17/05/1992 – o velho senador Dinarte, recebe um telefonema, no dia seguinte estava no Ministério do Exercito, solicitando ao ministro Orlando Geisel, um avião da FAB para ir buscar o corpo de Djalma e transportá-lo para Natal.

- Ministro, vim lhe pedir autorização e um avião para fazer esta viagem. Djalma quer ser enterrado na sua terra e vou cumprir o seu desejo. Se o senhor não me conseguir o avião, vou alugar um jatinho da Líder e desço com o corpo dele em Natal, nem que seja aos pedaços.

 - Não precisa disso, Dinarte, você vai buscar o corpo do seu amigo para ser sepultado na sua terra respondeu o ministro Orlando Geisel.

Dinarte contou esta história com os olhos marejados de lágrimas e com a voz embargada pela emoção, conclui JB “.

Era mais um gesto do homem que era amigo dos seus amigos, mesmo aqueles que estavam em campos opostos na política.

 


GESTO DE GRANDEZA ( Aluísio Alves)

Abril de 1964, começaram a sair as listas der cassações de mandatos. Aluísio governador pela UDN estava à tarde no escritório da representação do Rio Grande do Norte no Rio de Janeiro. Ouviu uma notícia dando conta da cassação do conterrâneo Clóvis Mota, deputado federal e presidente do PTB no RN. Aluísio foi ao Ministério da Guerra, procurou o coronel Sizeno Sarmento, chefe de gabinete de Costa e Silva, do Comando Supremo da revolução.

- Coronel, acabo de ouvir a notícia da cassação do deputado Clóvis Mota, lá do meu Estado. É um homem sério, honesto, correto, equilibrado, um empresário, não tem nada de subversivo nem de corrupção. É presidente do PTB, mas nunca ninguém o acusou de nada. É um velho amigo meu e essa cassação não tem sentido algum.

- Governador vou confiar em sua informação. Sargento, traga a lista de hoje.

Pegou um lápis vermelho, riscou o nome de Clóvis Mota.

- Sargento, bata de novo.


À noite, na “A Voz do Brasil”, saiu no vãmente o listão com os nomes dos cassados do dia. Clóvis Mota não estava na lista e nunca foi cassado.


IRINEU JOFFILY, O AUSTERO INTERVENTOR 

Em 23 de novembro de 1930, o Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas confirmou a indicação de Joffily para o governo potiguar, nomeando-o interventor federal no estado. Entretanto, a escolha de Café Filho para a chefia de polícia e a promoção de seus correligionários provocaram a hostilidade dos políticos tradicionais do estado contra o interventor. Descrito por José Maria Furtado, em suas “Memórias Vertentes”, como “homem de caráter íntegro”, dotado de uma espécie provinciana de temperamento incorruptível, suas intenções moralizadoras acirraram esses atritos.

Uma das suas primeiras providências como interventor foi “ativar a revisão de todos os atos dos poderes Legislativo e Executivo estaduais e municipais, a fim de serem declarados insubsistentes os que forem nulos por falta de preenchimento de formalidades legais, ou por serem evidentemente prejudiciais aos interesses do estado e dos municípios”.



Prova de sua austeridade de juiz que não fazia concessões com ninguém:

- Uma noite uma patrulha do Exército provocou tiroteio na zona boêmia de Natal. O Interventor chamou o secretário, Confúcio Carvalho, ditou um ofício indignado, ao Comando do Regimento. O comando ficou melindrado, reuniu-se e mandou uma comissão ao Palácio. Devolvia o ofício e pedia outro em termos mais corteses.

Irineu os recebeu e mandou sentar e chamou o secretário:

- Confúcio, vem cá. Lê aí, em voz alta, esse ofício que eu mandei para o comando do Regimento. Confúcio leu. O injterventor pôs os óculos, olhou um a um bem devagar e disse apenas:

- Corta o Cordiais Saudações.

Outra:

Numa visita que fez ao Colégio Estadual, o diretor  pôs a garotada de bandeirinhas na mão gritando:

“Viva doutor Irineu! “Viva doutor Irineu!

Irineu Joffily percorreu as dependências do colégio, terminou a visita, despediu-se do diretor, foi para o Palácio Potengi, chamou o secretário:

- Confúcio, prepara um ato demitindo o diretor do Colégio Estadual. Ele está ensinando muito cedo as crianças a bajularem autoridade.

(Leia mais sobre o paraibano Irineu Joffly, na página PERISCÓPIO)

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