Neste dia 15 de janeiro há cento e cinco anos, nascia o poeta vaqueiro “Zé Praxedis”, codinome com o qual era conhecido em todo o Brasil, José Praxédes Barreto, compositor, poeta, violeiro e cantor. Nascido no dia 15 de janeiro de 1916, em Cerro Corá. Faleceu em 1983. Eu o conheci pessoalmente e o entrevistei na Rádio Rural de Mossoró, lá pelos finais dos anos 70. Estava viajando para Fortaleza e aproveitando para fazer divulgação de suas obras. Qualquer espaço lhe servia para recitar seus versos, fosse num picadeiro de circo, nas rádios, nos teatros, nas praças de São Cristovão, no Rio, no largo das Concórdia em SP, nas feiras livres no interior.
Guardei
na memória um pequeno trecho de uma poesia sua contando a história do Brasil,
desde o descobrimento, o período colonial, a vinda da família real, o período
republicano etc. Dizia mais ou menos assim:
...E
Cabral para não ter mais engano /
Diz
a Pero Vaz: Caminha,
ver se aquilo é o Brasil /
E este de olho na luneta
Diz ao nobre lusitano:
“Oh Cabral não pode haver mais engano /
Só pode ser o Brasil /
Está cheio de americano”.
Em outro trecho de sua narrativa lembra a cena imaginada
no famoso quadro do paraibano Pedro Américo, “O Grito da Independência”, onde
aparece garboso e solene o príncipe Dom Pedro empunhando uma espada à frente da
tropa imperial. E no lado esquerdo da tela, a figura de um caboclo carreiro com
seu carro de boi. Assim lembrou Zé Praxédi:
“...E Dom Pedro empunhando a espada
Enferrujada e sem corte
Grita prum índio de tanga,
Independência ou Morte!!
No meio musical, o poeta potiguar teve uma
destacada presença na defesa dos ritmos nordestinos e dos valores de sua gente.
O que pode ser comprovado nesse pequeno resumo:
Em 1951 apresentou recital numa das mais
elegantes casas de espetáculos do Rio de Janeiro, o Teatro Copacabana sob o
patrocínio do então vice-presidente da República Café Filho, seu conterrâneo.
Em 1952,
teve o baião "Batistério" gravado por Zé Gonzaga na Odeon. No mesmo ano publicou em versos matutos, a
primeira biografia de Luiz Gonzaga, que teve prefácio de Luís da Câmara Cascudo.
(vamos publicar material a respeito aqui no blog).
Em 1954, Passarim do Norte gravou na Continental
o rojão "Cabra valente", parceria com J. Mendonça. No mesmo ano Zé
Gonzaga gravou na Continental o "Galope à beira-mar", de parceria dos
dois.
Ainda no mesmo período foi homenageado por Juca do Acordeom e Seu Conjunto, com o
baião "Zé Praxédi", de Juca do Acordeom e José Ramos. Em 1955 gravou
com o acordeonista Alencar Terra, na Copacabana a música "Quadrilha",
de Alencar Terra. Em 1957, Jackson do Pandeiro gravou na Copacabana o
"Baião mineiro", parceria com Pato Preto e Sebastião Longon. Em 1960
publicou o livro "O sertão é
assim". Em 1961 participou do filme "Virou bagunça", de
Watson Macedo, com Trio Irakitan e Nádia Maria, entre outros.
Em 1962, De Morais e Doquinha gravaram na etiqueta
Sertanejo a marcha "Meu balão", parceria com De Morais. Nos anos 1960
gravou LP pela Mocambo interpretando entre outras, "Um poeta
nordestino", "A morte de Zé Dantas" e "Sabedoria de
matuto", todas de sua autoria.
Em 1974 lançou novo LP, desta vez pela Rosicler,
selo da gravadora Chantecler, no qual canta acompanhado do compositor e
parceiro Peres Gonzaga e das cantoras Lucia Valentim e Mariluza. Com Lucia
Valentim, interpretou "Luar do sertão", de Catulo da Paixão Cearense
e João Pernambudo e com Peres Gonzaga, "Rei do cangaço", "Meu
nordeste" e "O Brasil tem tudo", parcerias dos dois. Cantou
ainda com Lucia Valentim e Mariluza, o tema folclórico "Peixe vivo",
para o qual fez arranjos e adaptação.
Quem admira a poesia matuto por certo conhece a
narrativa de “Carro de Boi”
CARRO DE BOI
Carro de boi,
priguiçoso . . .
puxado pur Pintadin
e seu pareia: o Mimoso!
Tenho viva a tua musga
na minha arrescordação .
As risca qui tu dexasse
pelas istrada isquisita
a istória qui tem iscrita
dos teus tempo no Sertão.
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