sexta-feira, 16 de outubro de 2020

A MÚSICA NA POLÍTICA BRASILEIRA (VI)

Em 1951, Getúlio assumiu a Presidência num contexto social e econômico diferente daquele em que fora o mandatário por quinze anos. O Brasil tinha mais de 50 milhões de habitantes, 40% dos quais moravam em cidades. Com o crescimento e a expansão das indústrias, cerca de 1,5 milhão de operários trabalhava em fábricas, minas, portos e ferrovias. O Estado passava a ter mais embaraço para controlar os diversos interesses de partidos, corporações e movimentos sociais.
A letra da música “Falta um zero no meu ordenado”, de Ary Barroso e Benedito Lacerda, dava o tom das dificuldades que Getúlio herdou do governo Dutra: gravado por Francisco Alves, para o carnaval de 1948, mas aqui também com um toque de samba moderno  na voz de Jards Macalé.

Trabalho como louco,
Mas ganho muito pouco,
Por isso eu vivo sempre atrapalhado,
Fazendo faxina,
Comendo no China.
Tá faltando um zero
No meu ordenado.


O corpo de Getúlio ficou exposto no Palácio do Catete provocando cenas emocionantes de mulheres desmaiadas, homens chorando abraçados ao caixão. Filas gigantescas iam do Catete até Botafogo e o Centro: todos queriam dar o último adeus  a Seu Gegê. Em 1956, Moreira da Silva gravou “A carta”, samba de Silas de Oliveira e Marcelino Ramos, em homenagem a Vargas:

Mais uma vez / As forças e interesses contra o povo
Coordenaram-se novamente/ E se desencadeiam sobre mim. 
Não me acusam,/ Insultam-me de novo.
Vejo de perto aproximar meu fim.


A chamada greve dos 300 mil em São Paulo. Para jogar um balde de água fria nos grevistas, Getúlio Vargas nomeou para o Ministério do Trabalho João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

João Goulart, o Jango, era visto pelos udenistas e por parte dos militares como um “vermelho”, um comunista. O novo ministro sugeriu ao presidente dobrar o salário mínimo, o que não era grande coisa, pois o salário não aumentava havia quase dez anos. Como já dizia o compositor Ernani Alvarenga, em “Salário Mínimo”:

Cansei de tanto trabalhar
Na ilusão de melhorar.
Cinco filhos, mulher e sogra pra sustentar. 
Setecentos e cinquenta cruzeiros? 

Não dá


 



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