terça-feira, 6 de outubro de 2020

A MÚSICA NA POLÍTICA BRASILEIRA

São inúmeras as canções, sambas e marchinhas, cuja temática são os políticos e a política brasileira. Assim foi ao longo dos anos, desde os primeiros anos da República, passando pelo Estado Novo,  a II Guerra Mundial, na maioria dos casos, elas tinham teor humorístico, ora satirizando ora exaltando. O carnaval foi o meio e o ambiente encontrado para retratar o sentimento geral da população e extravasar seus anseios.  Em alguns casos, por encomenda, em outras ocasiões retratando as situações vividas no cotidiano  das camadas mais pobres da população.

Nos primeiros anos do século passado, uma gravação de 1912, já chamava a atenção para uma campanha governamental, o combate a uma epidemia, a Peste Bubônica, que assolou o Rio de Janeiro  desde 1903.  Trata-se de uma polca ou um choro  chamada de Rato-Rato”. Ganhou letra de Claudino Costa e que anos depois seria regravada por Ademilde Fonseca. O autor o trompetista Casimiro Rocha. Ele nasceu em 1880 e faleceu em 1912,ex-integrante da Banda de Música do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro naquela época dirigida pelo grande maestro Anacleto de Medeiros, compôs e lançou a polca Rato-Rato. O governo estimulava as pessoas a juntar o maior número possível de ratos recebendo recompensa em dinheiro. A compra de ratos serviu de inspiração.

Em algumas ocasiões – quando os temas tratados – não eram do agrado das autoridades simplesmente o crivo da censura falava mais alto. Os compositores, no entanto,  conseguiam “briblar” a censura. Um exemplo é o samba “O Bonde São Januário”  que na letra original dizia: “ O Bonde São Januário leva mais um sócio otário sou eu que vou trabalhar”...

Em pleno Estado Novo, num regime que se dizia trabalhista, não podia admitir que a música popular louvasse a vadiagem. Sem dúvida, Getúlio  foi o presidente que mais soube tirar proveito e dividendos políticos junto a classe trabalhadora. A censura getulista não perdoava, justamente porque a política governamental enaltecia o valor do trabalho. Então, para evitar a prisão e ficar “fichado” na polícia política do DIP os criadores, Wilson Batista e Ataulfo Alves resolveram alterar a letra ficando: “... O Bonde São Januário leva mais um operário, sou eu que vou trabalhar...”(gravação de Ciro Monteiro na RCA Victor em 18 de outubro de 1940. Foi destinada ao carnaval do ano seguinte, 1941).

Duro era convencer os nossos grandes compositores do período, entre eles, Wilson Batista, que se considerava um malandro de fato a enaltecer o trabalho. Basta observar os versos do samba “Inimigos do Batente”  Nele, a mulher anda às turras com o marido e não se conforma com o fato de que ele arruma um emprego de manhã, e pede a demissão à tarde. Wilson Batista, sob o dedo da censura de Getúlio Vargas, louva o trabalho e o operário (meio a contragosto). O assunto vai continuar  em Memória Musical. 

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